São Paulo, sexta-feira, 23 de dezembro de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
A ver Por mais que tente negar, é evidente que o presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, viu-se forçado ao compor seu ministério a partir de uma negociação política cujo resultado é ainda uma incógnita. Essa negociação, em princípio, não é condenável. Mas, no Brasil, exemplos históricos recentes deram a ela um sentido negativo, a ponto de se cunhar a expressão "loteamento" para designá-la. Em governos anteriores, a negociação política mereceu, de fato, a pecha de loteamento, porque o critério de competência para a função foi, na maior parte das vezes, preterido em favor de acertos de discutível validade. Mas é também verdade que todo governo democrático, em qualquer lugar do mundo, necessita de maioria no Congresso para poder ver aprovados seus projetos. No caso específico do Brasil e de FHC, tal necessidade é ainda maior, dado que estão prometidas reformas constitucionais cuja aprovação depende de quórum qualificado (3/5 de cada Casa do Parlamento). Abrir espaço no ministério é uma das formas de tentar formar tal maioria, uma vez que ela não surgiu das urnas. O suposto ou real loteamento político de parte do ministério, portanto, terá que ser julgado à luz dos resultados. Se o governo, graças à negociação que resultou na forma final do gabinete, dispuser de uma maioria sólida para aprovar reformas de fato saneadoras, então a negociação terá valido a pena. Em caso contrário, o novo presidente terá apenas repetido pecados de seus antecessores. Qual das duas hipóteses se revelará correta é o que se vai ver nos próximos meses. Texto Anterior: O alerta mexicano Próximo Texto: O caso Berlusconi Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |