São Paulo, sexta-feira, 23 de dezembro de 1994
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O caso Berlusconi

A renúncia do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, deve ser analisada como um dos caprichos que a política não raro manifesta, como se fora um ser consciente e dotado de um estranho senso de humor. O clamor público pela probidade administrativa, que implodiu o sistema partidário italiano, levando ao poder o controvertido empresário, agora o derruba.
É claro que ainda é cedo para sepultar a carreira política de Berlusconi, sobretudo se se considerar o sempre confuso panorama da disputa pelo poder naquele país, mas parece certo que a coalizão chefiada pelo megaempresário não sobreviverá nem mesmo se passar por uma profunda recauchutagem.
Em função da Operação Mãos Limpas, uma nova Itália tentou emergir das últimas eleições. Os partidos tradicionais, cujos políticos estavam mais envolvidos nos escândalos de corrupção que arrebataram a opinião pública, obtiveram uma votação pífia, para dizer o mínimo. Os vitoriosos foram, de um lado, as agremiações mais à direita, como a Forza Italia de Berlusconi, os federalistas da Liga Norte e os neofascistas. No pólo oposto, também obtiveram boa votação os partidos de esquerda, como o PDS e a Refundação Comunista.
O eleitorado foi portanto claro ao rechaçar as velhas e condenáveis práticas dos políticos tradicionais. Foi nesse clima de renovação que deram a Berlusconi, que prometia um governo limpo, o seu voto de confiança. Depois que o premiê e suas empresas tiveram seus nomes envolvidos em denúncias de corrupção, a ilusão em torno de Berlusconi se desfez.
O episódio ensina, aos italianos e ao mundo, que é preciso, sem sombra de dúvida, votar prestando muita atenção ao quesito probidade administrativa, mas sempre sem se deixar enganar pelo discurso sedutor de aventureiros.

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