São Paulo, sábado, 24 de dezembro de 1994 |
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Preconceito também mata
GILBERTO DIMENSTEIN BRASÍLIA - Sei que a coluna de hoje não se encaixa com o ameno clima natalino. Paciência. A Folha publicou reportagem sobre disseminação da Aids entre jovens - o que atinge um assunto-tabu no Brasil. Um assunto nem de leve mencionado pelos integrantes do novo governo.Um dos motivos da expansão: o viciado é tratado como criminoso e não recebe o tratamento preventivo. Portanto, devemos levar a sério a idéia da descriminalização. Concluídos esta semana, os números do Ministério da Saúde impressionam, mostrando que as seringas são a principal causa da transmissão de Aids no Brasil. De 1986 até aqui, a evolução da doença entre os viciados cresceu espantosos 1,773% - os viciados transmitem o vírus à categoria dos heterossexuais. O ponto essencial: os viciados são classificados como criminosos. Dificulta-se a ação do sistema de saúde; o próprio doente sente-se constrangido de procurar ajuda. Mas eles têm de ser ensinados a evitar uma mesma seringa e receber, através de instituições públicas, ajuda para combater o vício. Não consigo ver nenhum argumento razoável que justifique diferente tratamento entre os alcoólatras e drogados - ambos são vítimas de uma doença. Ao tratar vítimas como criminosos, o Estado apenas penaliza ainda mais um indivíduo já penalizado. E, pior, estimula, na prática, que o problema se dissemine com mais facilidade na comunidade. É preciso ser muito tapado para imaginar que as Forças Armadas nas ruas vão acabar com as quadrilhas ou com o vício. Eis aí um assunto que Fernando Henrique Cardoso, com sua formação liberal, poderia inovar. Nem que tenha de desafiar a pressão dos Estados Unidos, onde, apesar de toda a repressão, o consumo de drogas aumentou, produzindo ainda mais violência e delinquência juvenil. PS 1 - Podiam começar a descriminalizar a maconha, a exemplo da Holanda ou Colômbia. Aliás, se todos os brasileiros que experimentaram maconha tivessem sido presos, não haveria elite no país - a começar do futuro presidente da República. PS 2 - Corrijo aqui a grafia do nome de um médico publicado nesta coluna em 17/12. O certo é Dalton Chamone. Texto Anterior: Dinheiro até sobra Próximo Texto: Natal de Jesus Índice |
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