São Paulo, terça-feira, 27 de dezembro de 1994
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Por que não terceirizar a segurança?

ARTHUR MAZZINI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Recentemente assisti, indignado, a um pavoroso assalto próximo à Vila Nova Conceição. Aguardando a abertura do semáforo, escutei uma gritaria. Olhei pelo retrovisor e vi dois trombadões de revólver em punho batendo com extrema violência no vidro do carro que conduzia duas jovens senhoras. Instintivamente, saí em disparada à procura de um carro da polícia. Andei uns dez quilômetros pela avenida Santo Amaro, olhei para todos os lados. Não havia um único policial nas imediações. Sem ter o que fazer, lamentei por aquelas senhoras, pedindo que não tivessem pago com a vida.
Naquele momento, como pessoa, senti-me insignificante. Como cidadão, muito mal cuidado pelos responsáveis em administrar e prover o mínimo de segurança pública. Notei que, em São Paulo, não existe nenhuma espécie de policiamento ostensivo ou preventivo. A cidade está abandonada à própria sorte.
Enquanto isso, o raciocínio maniqueísta das autoridades se incumbe de determinar o que é melhor para a comunidade. Os estádios de futebol recebem um espetacular contingente para cuidar da segurança e controlar a exaltação dos torcedores. Trata-se, no mínimo, de um pensamento equivocado. Esses policiais deveriam permanecer mais próximos dos cidadãos, cuidando para que bandidos não se esgueirassem em meio aos carros nas ruas e cruzamentos.
Sabemos que o número de policiais é insuficiente para atender à toda cidade. Mas, com certeza, estádio de futebol não é local para ser cuidado pela polícia, em detrimento dos outros cidadãos. O serviço de segurança e disciplina nos estádios de futebol pode, perfeitamente, ser feito, com mais eficiência e menor custo, pelas empresas especializadas em vigilância.
Os diretores dos estádios deveriam promover a terceirização desse serviço. O custo poderia ser repassado aos ingressos. Nos Estados Unidos e Europa é assim que funciona e bem. As vantagens são inúmeras para todos os interessados.
A Polícia Militar poderia voltar ao lugar de onde nunca deveria ter saído –as ruas. Por outro lado, haveria uma grande absorção de mão-de-obra com carteira assinada para trabalhar nas firmas de segurança, mais recolhimento de impostos, melhor qualidade e eficiência, tanto nos estádios como nas ruas. A coletividade, como um todo, seria melhor atendida.
A idéia é simples e fácil de ser implementada de imediato. Basta que os responsáveis pela segurança pública deixem de lado a mesmice politiqueira e atuem com inteligência. Que adotem a reengenharia interna e promovam a terceirização de uma atividade que não é o negócio essencial da polícia. Como se diz no mundo dos negócios, é melhor cuidar bem do seu "core business" do que querer atuar em todas as coisas e fazê-las equivocadamente.

Arthur M. Mazzini é advogado e diretor da Singer do Brasil

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