São Paulo, terça-feira, 27 de dezembro de 1994
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Notas baixas

FÁBIO SORMANI
Outro dia, assistindo à abertura do campeonato universitário norte-americano, fiquei sabendo que o técnico da Universidade de Massachusetts, John Calipari, tinha afastado seu armador titular, Mike Williams, por três jogos porque ele apresentou o boletim com notas baixas. Resultado: Williams pegou firme nos livros, melhorou nos estudos e voltou ao time.
Na Universidade do Arizona, o técnico Lute Olson tinha afastado indefinidamente o ala Joseph Blair porque ele estava colocando em segundo plano sua vida acadêmica. Blair pegou firme nos livros, como Williams, e teve a clemência de Olson.
Conto esses dois casos porque pretendo fazer um paralelo com o Brasil. Situação semelhante vive os nossos jogadores que disputam os campeonatos das categorias menores. Para quem não sabe, antes de o atleta chegar no adulto ele passa por sete categorias, todas em idade escolar.
Ao contrário dos EUA, aqui no Brasil os livros são relegados a quinto plano. Não se tem notícia de jogador que foi afastado do time por estar indo mal na escola. Infelizmente, a maioria dos nossos técnicos e dirigentes não cobra dos garotos o mesmo desempenho com os livros nas mãos.
Prova disso é que muitos jogadores que se destacam nos clubes são agraciados com bolsas de estudos em alguns colégios de qualidade acadêmica discutível. Pior: eles têm facilidades, porque, além de jogar nos clubes, eles também representam essas instituições em torneios escolares.
Vejamos o que diz o armador Tyrone Bogues, do Charlotte Hornets, sobre isso: "Ao me formar em Dunbar, não levei o estudo a sério como devia. Sempre passei de ano, mas não estava preparado para uma instituição como a Universidade de Wake Forrest (WF), para onde fui. Desejava, por isso, alcançar o nível dos alunos de WF e isso me mudou por completo. WF ia me ajudar a conseguir uma boa educação, de modo que se o basquete não evoluísse, poderia me dedicar a outra coisa".
Preocupados com isso, Calipari e Olson não pensaram duas vezes em afastar seus jogadores. Afinal, eles sabem que de seus times poucos sairão para a NBA. Se eles não cursarem com seriedade a universidade, o que farão no futuro?
Mesma situação vive nossos atletas. São poucos os que um dia vão se tornar jogadores de basquete. O que os outros farão de suas vidas quando descobrirem esta realidade?

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