São Paulo, terça-feira, 27 de dezembro de 1994
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Em nome de Deus

A partir do fim da Guerra Fria, o mundo começava a desacostumar-se de assistir às tétricas cenas de pessoas inocentes sendo friamente assassinadas e seus corpos atirados sobre as pistas de aeroportos. Infelizmente, essa lúgubre sequência voltou a repetir-se.
O sequestro do Airbus da Air France serve portanto de alerta para o fato de que um dos mais covardes fenômenos da luta política, o terrorismo, continua ativo em uma de suas mais clássicas modalidades, a pirataria aérea.
Em que pese a trágica morte de quatro pessoas que pretendiam apenas viajar, o resultado da ação da gendarmeria francesa pode ser visto como positivo. Afinal, a maioria dos passageiros foi salva e os terroristas não foram capazes de lograr seus torpes objetivos.
De resto, o ataque chama a atenção para o problema da intolerância religiosa, hoje o principal foco do terrorismo mundial. Diferentemente do terror que marcou as décadas de 70 e 80, que se inscrevia numa situação geopolítica bastante determinada e era movido principalmente por motivos políticos, a atuação dos grupos fundamentalistas –sobretudo muçulmanos– hoje tem inspiração nitidamente religiosa, o que os torna mais ousados.
De fato, estas pessoas acreditam que todos os seus atos criminosos têm justificação divina. Não temem a própria morte. Julgam até mesmo glorioso morrer atacando inocentes, na crença de que este ato lhes abrirá as portas do paraíso.
Chega a ser incrível a capacidade humana de cair nas garras do fanatismo, pervertendo a própria mensagem religiosa. Afinal, a idéia do Deus das três grandes religiões monoteístas, seja ela considerada do ponto de vista teológico ou antropológico, tenta imprimir as noções de comunhão, paz, convivência.
E, é triste constatar, parte substancial das guerras e assassinatos que a humanidade experimentou ao longo de séculos e séculos foi perpetrada em nome de Deus.

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