São Paulo, terça-feira, 27 de dezembro de 1994
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Choque de moralidade

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Um primeiro critério para se avaliar até que ponto o novo governo está mesmo disposto a mudar as coisas será o acatamento ou não de sugestão da CEI (Comissão Especial de Investigação) que propõe suspender todos os 657 contratos em andamento no âmbito do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem).
Diga-se que, antes da eleição, Sérgio Motta, então o principal coordenador da campanha e hoje ministro designado das Comunicações, dizia que uma das primeiras medidas do futuro governo seria exatamente uma auditoria em 30 ou 40 grandes contratos do governo.
Sempre segundo Sérgio Motta, não se tratava de uma medida policialesca, mas de um instrumento de pressão para forçar a queda nos preços cobrados do governo.
O relatório da CEI justifica a pressão: o superfaturamento, só na área do DNER, vai a cerca de 40%. Ou, em outras palavras, o contribuinte paga por uma estrada inteira, mas recebe de volta pouco mais da metade dela.
Não adianta fazer de conta que, mudando o presidente, mudam os hábitos e costumes arraigados que permitem essa monstruosidade, entre tantas outras.
Afinal, é o próprio presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, quem tem passado sistemáticos atestados de idoneidade ao presidente atual, Itamar Franco, e a seu governo. De fato, pode se acusar Itamar de quase tudo, menos de ladroagem.
No entanto, o escândalo apontado pela CEI não foi contido no seu governo, tanto que a comissão recomenda a suspensão de todos os contratos em andamento no DNER.
Logo, o exemplo do chefe não basta. O presidente eleito afirma que medidas pontuais não resolvem e que mais eficaz é um processo permanente de controle da corrupção. Tudo bem. Mas se não se der um choque de moralidade de saída, o processo permanente tampouco produz efeito.
O relatório da CEI parece um excelente motivo, ainda mais havendo o aceno anterior do chefe da campanha de FHC, para que se demonstre, logo no início, uma decisiva mudança de comportamento. A cobrar já no dia 2 ou 3.

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