São Paulo, terça-feira, 27 de dezembro de 1994 |
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Os projetos de Gutemberg
GILBERTO DIMENSTEIN BRASÍLIA – Fui brindado ontem, em artigo publicado na pág. 1-3 da Folha, por um comentário crítico (elegante e inteligente, diga-se) de uma socióloga da equipe de FHC. Professora da Unicamp, Gilda Portugal Gouvêa não gostou de minhas dúvidas sobre até onde vai a sensibilidade social do presidente eleito.Para mostrar o compromisso social de Fernando Henrique Cardoso, ela expõe as linhas mestras do plano do governo. A concepção é, de fato, muito boa, por tentar unificar as ações hoje pulverizadas nos ministérios. Implantado, esse plano significa uma revolução na administração pública. O problema é que já sou repórter há muito tempo para me sensibilizar com os "projetos de Gutemberg" –ou seja, projetos que não saem do papel. De boas intenções, os ministérios estão cheios. O fato é que Fernando Henrique prometeu colocar num satus mais elevado seus ministérios sociais, equiparando-os aos econômicos. Não cumpriu: repetiu a velha tradição. Nem sequer anunciou o nome do coordernador do projeto Comunidade Solidária, o que é mais grave ainda. Não é só. Ele recebeu documento do Unicef, elaborado por especialistas, mostrando que nos próximos três meses vão morrer 30 mil crianças no Nordeste –a mortalidade infantil é maior nesse período. Recebeu também sugestões para salvar 20 mil vidas com medidas simples. Bastaria vontade política e entrosamento com os novos governadores para a distribuição de sais de reidratação oral e de antibióticos destinados a combater infecção respiratórias. A verdade é que eles parecem mais preocupados com o menu da recepção da posse do que com um plano de emergência no Nordeste. É por ações concretas que devo medir o empenho e a sinceridade dos governantes. O resto é Gutemberg. Diante de resultados positivos, quero ser o primeiro a apontar nesta coluna. PS – Tivesse o presidente eleito mais chance e vontade de conviver com ambientes menos afetados pela bajulação e refinamento, o sentimento de urgência diante da crise social seria maior. Desde que foi eleito, seu contato com os pobres não ultrapassou os limites do garçom ou do motorista. Texto Anterior: O Rio e FHC Próximo Texto: Uma nova etapa Índice |
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