São Paulo, terça-feira, 27 de dezembro de 1994 |
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Uma ocasião a favor do Brasil
RAFAEL GRECA O extraordinário momento político que vive o nosso país, com a eleição livre do presidente Fernando Henrique Cardoso e de todos os governadores, deputados e senadores, pede a todos os brasileiros, qualquer que tenha sido nosso voto, engajamento espiritual a favor do país.Pátria das oportunidades e da esperança, o nosso país admirável não pode e não deve ser enxovalhado para consumo externo pelos brasileiros. Merece ainda ser valorizado, em tudo o que temos de positivo, para o público interno. Isto, naturalmente, não significa que percamos o poder de crítica, essência da democracia. Significa, contudo, que devemos agarrar com entusiasmo as perspectivas de mudança sadia a partir deste momento histórico. O poeta latino Seleuco, no século 4 a.C., escreveu que a ocasião é uma mulher muito bonita, tem a nuca pelada, e apenas três fios de cabelo diante do rosto. Visita os mortais uma única vez na vida. É veloz. Quando se aproxima é em frêmito estonteante, levantando o pó dos caminhos. Quem não agarra a Ocasião pela frente, não a agarra nunca mais. Resta o consolo de conversar com seu irmão, mais lento, claudicante, que costuma visitar os mortais na sequência. Ele chama-se Arrependimento. Esta é a ocasião de nós, brasileiros, reencontrarmos nosso futuro. Viver sem inflação é muito melhor do que a angústia mensal dos índices de carestia anunciada. Viver com moeda estável é condição de planejamento seguro, de igualdade de oportunidades para todos. Não tem cabimento o mau-caratismo, antipatriótico, de descuidarmos do Plano Real só porque a eleição passou, só porque –como já ouvi de um empresário mal-intencionado– "Lula já era". Há que se valorizar o Brasil. Dias atrás, em Nova York (EUA), na festa do "Homem do Ano" da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, vi com espanto o tão decantado economista e ex-senador Roberto Campos falar mal do Brasil para uma ampla platéia externa. Foi consenso da maioria de que suas palavras, naquele momento, soaram como antipatrióticas, inoportunas e de baixa consistência. É preciso, agora, além de continuar o Plano Real, estabelecer um "pacto real" a favor do Brasil. Negociado por todos, encampado pelos prefeitos, os primeiros a ouvir as aflições do povo, é necessário um pacto capaz de unir trabalhadores e empresários –a favor do Brasil–, para apoiar o presidente eleito contra a inflação e a especulação. Fernando Henrique Cardoso terá, no prefeito de Curitiba e nos governadores eleitos, a exemplo de nosso amigo Jaime Lerner, bons companheiros para essa luta patriótica, em defesa dos interesses de todos e da social-democracia, idéias do PDT e do PSDB. Penso que será amplo consenso da sociedade brasileira para a mesma luta. E venceremos. Se soubermos que essa é a ocasião. Justiça social; fim do "apartheid" dos oprimidos pela pobreza; fim do número vergonhoso de pessoas passando fome e sem teto; crescimento econômico e mobilização a favor do país. É só o que falta à oitava economia da Terra para que se inscreva no rol daquelas nações que deram certo neste mundo e hoje vivem com dignidade e perspectiva de futuro. Texto Anterior: Por uma política internacional das cidades Próximo Texto: FHC e o combate à miséria; Emoções (1); Emoções (2); Crime e castigo; Racismo em debate; Estabilidade do funcionalismo; Trem São Paulo-Rio; Dormindo com o inimigo; O lado bom do Islã; Os sérvios; "Movimento verde"; Catástrofes brasileiras; Gráfica do Senado Índice |
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