São Paulo, sábado, 31 de dezembro de 1994
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Leia a íntegra do discurso de Itamar na reunião

Esta é a íntegra do discurso de Itamar na última reunião ministerial do seu governo, ontem:

"Senhores ministros de Estado,
Antes de entregar ao presidente Fernando Henrique Cardoso a chefia do Estado e do governo, quero agradecer a Vossas Excelências os serviços que prestaram à nação, com lealdade, competência e dedicação. Sinto-me particularmente feliz por haver contado com o patriotismo de todos os senhores, na administração de um tempo singular de nossa história republicana.
Sabem os senhores que a política, entre outras coisas, é a adequação dos homens públicos às circunstâncias de cada momento histórico. Ao longo do mandato, alguns ministros deixaram seus cargos. Mas sei que procuraram servir o país com o melhor de sua inteligência, contribuindo para os resultados que obtivemos nestes dois anos de governo. A todos manifesto o meu agradecimento.
Guardarei deste convívio não só a memória do trabalho eficiente que realizaram e o testemunho do respeito de Vossas Excelências para com o nosso povo e para com as instituições republicanas. Levarei também a recordação de um convívio amável, com homens honrados, conhecedores dos problemas gerais do Estado. Devo dizer que a firmeza com que defenderam, nas reuniões ministeriais e nas audiências específicas, suas idéias e convicções jamais comprometeu a elegância com que nos tratávamos.
O ministro Zenildo de Lucena e o ministro José Israel Vargas continuarão nos seus cargos no próximo governo. Congratulo-me com estes amigos, que irão servir à República sob a Presidência de um dos homens mais eminentes de nosso tempo. O presidente Fernando Henrique Cardoso faz parte de nossa história, como intelectual brilhante e cidadão empenhado na luta contra as injustiças e na defesa da democracia.
Senhores ministros,
Regressamos aos nossos lares, com maior tempo para a família e para os amigos. Podemos partir com a consciência tranquila e a alegria de haver cumprido o dever para com a pátria. Asseguro-lhes a minha amizade e desejo continuar tendo-os entre os meus mais diletos companheiros. Desejo-lhes felicidades no futuro e sei que continuarão, quaisquer que venham a ser as suas atividades, a servir ao Brasil.
Meus compatriotas,
Deus nos deu uma das mais belas e promissoras regiões da Terra, para que nela construíssemos uma sociedade justa. Os bens que possuímos em comum bastam para que todos os brasileiros tenham vida digna e honrada. Para isso é preciso o trabalho que desenvolva a economia e a razão política que oriente a sociedade.
Desenvolvimento econômico e razão política dependem da vontade de todos os brasileiros, e só a democracia poderá liberar as energias criadoras da nacionalidade.
Não temos razões para o pessimismo. Em poucos séculos de ocupação, fomos capazes de construir a mais evoluída das civilizações tropicais. Somos o país mais industrializado e de maior Produto Interno Bruto ao sul do Equador. Alguns Estados brasileiros rivalizam, em todos os índices de progresso, com muitos países da Europa.
Nos últimos 50 anos deixamos de ser um país agrícola, que dependia de produtos primários, como o café, para a sua receita cambial, e erguemos complexo parque industrial que nos permite competir, com vantagens em muitos setores, em todos os mercados do mundo.
Lembro essas condições históricas para lhes dizer que tenho profunda fé no destino de nosso país. Nestes dois anos de governo, pela própria exigência de minhas responsabilidades, pude conhecer melhor a nação e a nossa gente.
Nenhum povo dos tempos modernos confrontou-se com tantos sacrifícios para estender as fronteiras e a soberania, avançando as marcas de domínio sobre o vasto desconhecido e riscando, no chão, os sinais de nova identidade política. Temos que reverenciar a memória dos antepassados, que ergueram a nação com o sonho e com o suor, com a razão e com o sangue.
Quero agradecer a cada um de vocês por me terem incentivado com o seu apoio e com a sua crítica, nestes dois anos de governo. Só fiz o que fizemos juntos. Não fosse a confiança dos cidadãos, teria sido difícil manter a paz, restaurar a credibilidade da moeda. Retomar as taxas de crescimento econômico, que foi de mais de 10% no período.
O governo confiou no povo, que soube contribuir com seu patriotismo para o êxito do plano de estabilização econômica. E o povo confiou na seriedade do governo.
Ao despedir-me de meus compatriotas, quero pedir-lhes que dêem todo o apoio ao meu sucessor. Ele, com o seu espírito de liderança, sua visão de Estado e inegável patriotismo, foi um dos grandes responsáveis pelos resultados que obtivemos. Estou certo de que conduzirá a nação com as suas virtudes de probidade, inteligência e trabalho.
Procurei, nos limites das leis e da Constituição, usar o poder do Estado em favor das crianças sem lar, dos trabalhadores sem emprego, dos humilhados e oprimidos.
Estou certo de que iniciamos, nestes meses fortes, outro tempo nacional. Não há mais como recuar de nosso destino de justiça e de grandeza.
A cada um de vocês, homens e mulheres, moças e moços, que nos deram ânimo e foram a razão de nossos esforços, muito obrigado. Nas festas de fim de ano, tenham-me presente na alegria de suas famílias."

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