São Paulo, sábado, 31 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sob nova direção

A intervenção no Banespa e no Banerj significa que os dois maiores bancos estaduais serão administrados por um conselho de técnicos do Banco Central por um ano. O objetivo é sanear as duas instituições que, sob o controle dos respectivos governos estaduais, endividaram-se excessivamente.
Os dois bancos continuarão a funcionar normalmente. Trata-se de uma mudança na administração interna que não afeta o funcionamento das instituições face aos correntistas e aplicadores. Os depósitos, saques, aplicações e pagamentos não sofrem qualquer alteração.
O resultado prático da indicação das novas diretorias pelo BC é que os governos de São Paulo e do Rio não poderão mais utilizar-se desses bancos para financiar seus déficits.
A dificuldade do Banespa e do Banerj de rolar as dívidas de seus Estados não é propriamente uma novidade. O uso político e fisiológico, os escândalo envolvendo irregularidades, o inchaço e a ineficiência das instituições financeiras estaduais existem há tempos. Com a incipiente estabilização da economia, os problemas gerados por administrações e governos irresponsáveis ganharam maior visibilidade.
No passado recente, as altíssimas taxas de inflação deram a todo o sistema financeiro excelentes oportunidades de lucro. Mas, enquanto os grandes bancos privados se preparavam para operar sem os ganhos inflacionários, as instituições estatais acomodaram-se em uma situação que, sabidamente, não poderia durar para sempre.
Anteontem o Banespa e o Banerj não conseguiram fechar suas contas. Faltou R$ 1 bilhão ao primeiro e R$ 515 milhões ao segundo. A intervenção veio como medida saneadora, pois permite enfrentar com maior firmeza um problema cuja solução era repetidamente adiada por motivos políticos.
Os déficits nos bancos estaduais estão entre as principais ameaças ao equilíbrio das contas públicas e, assim, à estabilização duradoura da economia. A intervenção no Banespa e no Banerj e a liquidação do pequeno Banco de Desenvolvimento do Rio Grande do Norte são saudáveis sinais de que o ajuste poderá ser finalmente levado a sério.
O bloqueio dos bens dos diretores dos dois bancos nos últimos 12 meses pode ser também uma oportunidade para que sejam apurados escândalos como o das contratações irregulares no Baneser e punidos todos os responsáveis –algo que, aliás, já devia ter ocorrido há bastante tempo.
A intenção do próximo governo de Minas Gerais de privatizar o banco Crédito Real, segundo declarou o futuro secretário da Fazenda do Estado, João Heraldo Lima, é também alentadora. Os imensos desequilíbrios dos Estados e seus bancos dificilmente serão superados sem a venda de patrimônio público. A privatização desses bancos é um modo de obter os recursos necessários a esse ajuste e ao mesmo tempo restringir a possibilidade de que os desequilíbrios retornem, uma vez suspensa a intervenção.
Não há razão para a existência de bancos estaduais. Sua permeabilidade a pressões políticas torna-os extremamente propensos a desajustes. A facilidade de apelar ao endividamento convida os Estados ao desequilíbrio fiscal.
A ação do BC foi correta. Mas privatizar ainda é a melhor solução.

Texto Anterior: Cargo, faixa e esperança
Próximo Texto: Água na champanhe
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.