São Paulo, sexta-feira, 4 de fevereiro de 1994 |
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Impasses
NELSON DE SÁ
A palavra-chave de todos os seus discursos –porque foram longos discursos, não entrevistas– foi "impasse". O Jornal Nacional logo entendeu e deu uma frase do ministro já como manchete: "De impasse em impasse, até quando este povo vai aguentar." FHC estava falando do Congresso, de como a guerra entre esquerda e direita impede decisões. "Há um impasse", disse ele, nas várias televisões. "Os que querem a revisão têm medo das reformas. Os conservadores têm medo das reformas, como o imposto no setor financeiro, no setor rural, que nós estamos propondo. E os que querem as reformas, a chamada esquerda, têm medo da revisão. De medo em medo, o Brasil fica chupando o dedo." O ministro falava como um sociólogo, como quem não tem mais tanta pressão nos ombros. Falava como quem já não se preocupa com o fato de estar ou não estar ministro. Elocubrou, por exemplo, que não existe um impasse –de novo– entre Legislativo e Executivo. "O impasse é do Congresso com o país. A incapacidade do Congresso de decidir." Um terceiro impasse, que o ministro não explicitou, talvez por já estar com a decisão tomada, é o seu próprio. Ele não disse, nem que fica, nem que sai. Nos principais noticiários, do Jornal Nacional ao TJ Brasil, a aposta maior foi de renúncia. Uma outra aposta dos noticiários foi de que o Fundo de Emergência passa, na terça-feira que vem. Seria o melhor dos mundos, para o candidato FHC. Que deixaria o governo com a possível glória de um sucesso do plano e também com a imagem de um presidenciável que ataca, corajosamente, a conhecida podridão do Congresso. Um ataque que, de tão fácil, de tão óbvio, deixou gaguejando opositores mais experientes, como Luiz Eduardo Magalhães, Esperidião Amin etc. Texto Anterior: Ministro critica atitude do Congresso Próximo Texto: Equipe já mostra sinais de desânimo Índice |
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