São Paulo, terça-feira, 8 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pecuária de corte rumo à modernização

SYLVIO LAZZARINI NETO

Ante a quantidade e o tamanho dos problemas da nossa economia, os resultados obtidos nos últimos dez a quinze anos pela pecuária bovina brasileira não podem ser minimizados e nem mesmo considerados decepcionantes.
Ao longo desse período, a atividade permitiu ao país consolidar-se como um dos maiores produtores e exportadores de carne in natura e industrializada; é responsável pela produção de carne de alta qualidade com os mais baixos custos, apesar de ser apenada com a mais elevada carga tributária do mundo; desenvolveu e aprimorou o nelore, um dos mais eficazes produtores de carnes vermelhas na "faixa tropical" do planeta.
Com isso, nestes anos 90, a taxa brasileira de desfrute do rebanho (relação entre o número de cabeças abatidas e o rebanho total) já se situa na faixa entre 16% e 18%, enquanto no Uruguai o índice de 16% permanece inalterado desde o início da década de 80, o mesmo acontecendo na Argentina, cujo desfrute não avança para além de 25%, para desespero do ministro Caballo.
Convém lembrar que no início dos anos 80 o desfrute brasileiro não ia além de 13%. A ultrapassagem, pela pecuária brasileira, da taxa de desfrute da Argentina depende fundamentalmente da aplicação de duas medidas.
A primeira é a diminuição da carga tributária indireta da ordem de 32%, para os mesmos patamares do país vizinho (em torno de 14%). Em segundo lugar vem a modernização do marketing da nossa carne.
O primeiro ponto é assunto da revisão constitucional, em andamento. Já o segundo depende, basicamente, da tomada de posição dos agentes atuantes na distribuição da carne bovina. Isso significa considerar a real transformação dos frigoríficos em indústrias, comercializando carnes desossadas e tipificadas, segundo as preferências dos consumidores, com preços diferenciados para todos os produtos.
E, também, a expansão dos pontos de distribuição dos produtos cárneos, permitindo aos feirantes de grandes cidades –caso de São Paulo– vender livremente os cortes populares do dianteiro, a preços mais acessíveis que os praticados por outros pontos de venda. Dessa forma estimula-se a concorrência.
Vale salientar que é impressionante o volume de subprodutos desperdiçados nos açougues e a desossa nas indústrias possibilitaria uma enorme redução de custos, com reflexos positivos nos preços aos consumidores.
É preciso, portanto, mudar. E para melhor. Exemplo a seguir é o da avicultura nacional, que investe e se moderniza a cada ano, e vem, graças a isso, ganhando parcelas significativas do mercado. Ela tem sido ágil no atendimento às exigências do mercado consumidor.
Os feirantes serão os primeiros a demandar carnes desossadas, principalmente do dianteiro e da ponta de agulha. Assim se permitirá que o consumidor tenha aumentada a garantia da qualidade dos produtos e ampliada a certeza de que estes são, de fato, os pedidos por ele em suas compras.

Texto Anterior: Mais dinheiro; Doce recorde; Sucrimex; Febre aftosa; Testes ;Condenação; Baby beef; Algodão; Pressa
Próximo Texto: Milho deve ter equilíbrio entre oferta e demanda
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.