São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 1994
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A doença infantil do PT

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – No ritmo em que vai, o PT, que nasceu do movimento sindical, vai acabar morrendo como grêmio estudantil de escola secundária, na melhor das hipóteses. Chega a ser inacreditável o esoterismo das discussões em que tem se envolvido o partido ultimamente.
Pegue-se o caso da participação ou não no Congresso Revisor. É lícito ao PT, ou a qualquer partido, discordar da revisão e tentar obstrui-la. A partir do instante em que a obstrução se revela inútil, só há um caminho racional para partidos sérios: votar a favor do que considera bom para o país e contra o que acha ruim.
Ficar no chove-não-molha em que caiu o PT é ridículo, grotesco e caricato, como diria Geraldo Bretas, se não tivesse morrido e não fosse cronista esportivo.
Passe-se para a discussão sobre a moratória da dívida externa. Muita gente no PT parece acreditar piamente que moratória é uma questão simplesmente de vontade unilateral do devedor. Se fosse, beleza. Todo mundo dava o calote em todo o mundo e ponto final. Pena que não seja assim.
Moratória, para usar o jargão tão a gosto da esquerda, é uma questão de correlação de forças. E qualquer pessoa que tenha lido um único texto de uma única publicação relevante nos últimos três anos sabe que a correlação de forças é escandalosamente favorável aos credores, hoje e no horizonte previsível.
Em momento levemente mais propício, Dilson Funaro jogou a carta da moratória, apenas para ser fatiado com sanha pelos credores e seus aliados internos. Se o PT acha que, agora que o cenário é mais negativo, será diferente, então não se trata de grêmio de escola secundária, mas de jardim da infância, estágio em que a fantasia e a realidade se misturam muitas vezes.
Acordem, crianças que amavam tanto os Beatles, os Rolling Stones e a revolução. A revolução acabou, os Beatles se separaram e vocês, quase todos, ficaram barrigudos e carecas e deixaram o Centro Acadêmico faz uma pá de tempo. Cresçam ou desapareçam. O país e um eventual governo Lula agradecerão penhorados.

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