São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 1994
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PT dá bom exemplo

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Num artigo publicado hoje na página ao lado, eu e Josias de Souza reagimos ao que consideramos uma injustiça do professor Paul Singer, uma das estrelas intelectuais do PT. Ontem, em espaço naquela mesma página 1-3, ele classificou de mau jornalismo reportagem de nossa autoria, transcrevendo o programa preliminar do partido. Faço, aqui, porém, um reconhecimento: num ponto eles estão dando exemplo.
Aproveito esse debate para fazer justiça nesta coluna. O programa preliminar, divulgado pela Folha, revela mesmo maluquices –maluquices que só refletem o fato óbvio de que, na cúpula do PT, há transviados ideológicos. Uma pequena prova disso é a absurda proibição de participação dos deputados na revisão constitucional.
Mas o PT está, neste início de campanha, ajudando a elevar o nível do debate. Bem ou mal, eles estão propondo com saudável antecedência um programa à sociedade, o que permite uma discussão em torno de idéias -e não se o indivíduo é ladrão, tem amantes, é homossexual, usa brinquinho.
Não se vê o mesmo processo nos demais partidos com semelhante empenho. O ideal é que uma eleição represente um contrato entre governantes e governados, quando se assume uma proposta de país. Os homems públicos têm de assumir o desgaste de suas idéias já na campanha.
Quais as propostas de PSDB, PMDB, PPR ou PSDB para administrar o Brasil nas áreas de educação, saúde, habitação, saneamento básico ou Forças Armadas? Ainda não sabemos. O PT é um estímulo (espero) para que os demais partidos não se comportem como alguém que aguarda um cheque em branco do eleitor.
PS – Por falar em sucessão, ouvi do senador e banqueiro José Eduardo Andrade Vieira uma deliciosa frase. Perguntei-lhe se era mesmo candidato a presidente ou estava, como é normal, buscando espaço para negociar: "Sou candidato de verdade. Não especulo com votos. Só com dinheiro".

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