São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 1994 |
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Erros e promessas
CARLOS HEITOR CONY RIO DE JANEIRO – O personagem de Artur Azevedo sabia o que era plebiscito, mas não lembrava. Precisou da ajuda do dicionário. Felizmente, para ele, o Aurélio da época estava perto, bastou armar uma briga com a mulher e ir lá dentro, voltar à sala e explicar para a família o que era plebiscito.Na crônica de ontem, "Os Canhões de Copacabana", o dicionário não estava perto. No meu caso, seria um livro de minha própria autoria, "Quem Matou Vargas", não havia exemplar próximo num raio de muitas léguas, o jeito foi confiar na memória –e me dei mal. Antes que leitores escrupulosos me corrijam, eu próprio me corrijo, citando-me a mim mesmo. Os levantes militares que ontem lembrei tiveram outros personagens e endereços –e me apresso a enumerá-los. Não foi Prudente de Moraes quem tirou o pateque-cebola do bolso. Foi Epitácio Pessoa –nome que escrevo com frequência, pois se trata da avenida na Lagoa onde moro há muitos anos. Em 1922, o Forte ameaçou bombardear o Catete a 1 hora da manhã. Vinte minutos depois, Epitácio consultou o relógio: "É estão atrasados!" O outro episódio foi em São Paulo, na revolta de 1924. O futuro brigadeiro Eduardo Gomes queria bombardear o Campos Elísios. O presidente do Estado passeava tranquilamente nos corredores do palácio. Auxiliares e amigos tentaram tirá-lo de lá. O presidente, que era Carlos Campos, foi categórico: "Não saio. Aqui é mais seguro!". Ele conhecia a pontaria de Eduardo Gomes. Como o Juquinha que foi surpreendido no banheiro fazendo aquilo com a mão, prometo não fazer mais. Tal como a pontaria do brigadeiro e a palavra do Juquinha, é uma promessa débil, que deve ser recebida com restrições. Certamente cometerei outros e piores erros. Texto Anterior: PT dá bom exemplo Próximo Texto: O novo nome da revisão Índice |
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