São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 1994
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Efeito estufa acelera 'metabolismo' florestal

MARCELO LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A metáfora do efeito estufa pode ser ainda mais pertinente do que se pensava. Além do aquecimento do planeta, o aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera estaria provocando também uma tendência global de aceleração do crescimento de árvores nas florestas tropicais –exatamente como ocorre em estufas.
O estudo de Alwyn Gentry e Oliver Phillips, do Jardim Botânico de Missouri (região central dos EUA), está na edição de hoje da revista "Science". Eles pesquisaram dados sobre a rotatividade ("turnover") de árvores em 40 áreas (veja mapa à dir.). Sua conclusão: a velocidade de reposição está aumentando e isso só pode ser atribuído ao gás carbônico.
Essa relação "é algo muito difícil de provar", disse à Folha por telefone o botânico Phillips, 28. "Não há como fazer experimentos com ecossistemas inteiros." Para o pesquisador, os resultados são "muito consistentes" com a idéia de que mais gás carbônico acelera o "metabolismo" das florestas.
Concorda com ele o brasileiro Fernando Jardim, 41, que teve dados de um trabalho de 1990 utilizados no artigo de Gentry e Phillips. "A intervenção humana altera o processo natural de sucessão florestal", diz o cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Os dados da Amazônia que constam da amostra final de 19 sítios são do Peru, Equador e Venezuela. O Brasil, com a maior área de floresta equatorial do mundo, tem poucos dados sobre dinâmica florestal. Uma das razões para isso, segundo Phillips, é o isolamento científico do país: "É muito difícil para um estrangeiro fazer pesquisa no Brasil. Precisa-se de muito tempo para obter permissão".
Em seu artigo, o pesquisador adianta outra hipótese preocupante. A maior rotatividade favoreceria árvores de crescimento rápido, que têm madeira de densidade menor do que as que crescem na sombra. Diminuiria com isso a capacidade da floresta de armazenar carbono adicional lançado na atmosfera, o que potencializaria o efeito estufa. Jardim discorda: "A densidade da madeira é menor, mas elas a produzem em volume muito maior".

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