São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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Coronelismo continua vivo no Nordeste

ARI CIPOLA; EUGÊNIO NASCIMENTO; ADELSON BARBOSA
DA AGÊNCIA FOLHA

Às vésperas do século 21, o coronelismo ainda vive no Nordeste brasileiro. Mas, ao menos na sua forma clássica, o coronel nordestino parece próximo da extinção. Seus atuais representantes já passaram dos 60 anos e pouco lembram os grandes coronéis do passado, oligarcas que dominavam a política de seus Estados através do poder econômico e da violência.
Dois dos últimos coronéis da política nordestina, o alagoano Elísio Maia, 76, e o sergipano Francisco Teles de Mendonça, 67, o Chico de Miguel, anunciaram que vão abandonar suas carreiras políticas em 1994. Ambos são deputados estaduais (Maia pelo PFL e Mendonça pelo PPR) e ao final de seus mandatos pretendem deixar a vida parlamentar e entregar aos filhos a chefia política das regiões de Pão de Açúcar (AL) e Itabaiana (SE).
Os dois ocupam um espaço que não é preenchido pelo Estado. Auxiliam os moradores locais oferecendo assistência social por meio da distribuição de medicamentos, dinheiro e alimentos. Em troca, recebem a fidelidade e o voto dos eleitores.
Elísio Maia reclama do salário de deputado estadual, que "não dá para cobrir as obrigações que tenho de prestar para o povo pobre do sertão". Chico de Miguel oferece assistência às pessoas de sua região antes mesmo do nascimento. Ele acompanha o parto e, após a morte, paga as despesas do funeral.
Apesar da influência política que exercem, ambos perderam as últimas eleições nos principais municípios de suas regiões. Eles apostam nos filhos para recuperar o controle das prefeituras dessas cidades. Nos dois casos, há filhos que já se iniciaram na carreira política.
Chico de Miguel, pai de seis filhos, está preparando a filha Maria Teles de Mendonça para assumir seu lugar. Ela trabalha em seu gabinete na Assembléia Legislativa. Chico optou pela filha por considerar que seus filhos Elísio Sávio e Élvio não tem dom para a política. Os coronéis, deuses para uns e diabos para outros, tentam desfazer a imagem de violentos que os acompanha. Maia diz querer chegar ao ano 2000 tendo apagado a parte "diabo" de sua história. "O Elísio Maia é um deus para seu povo e quer continuar assim. Quanto a seu temperamento explosivo, basta que ninguém ameace sua honra para não sentir as consequências", afirma seu melhor amigo, o secretário de Segurança Pública de Alagoas, Ruben Quintela.
Paraíba
Na Paraíba, segundo o professor e historiador das Universidades Federais de Pernambuco e da Paraíba José Octávio de Arruda Melo, sobrevivem três coronéis: o fazendeiro Carlos Pessoa Filho, 66, sobrinho do ex-presidente da República Epitácio Pessoa e primo do ex-governador paraibano João Pessoa; o deputado estadual Aloysio Pereira (PFL), 70, do município de Princesa Isabel; e Francisco Pereira, 81, o "seu Chico", ex-prefeito de Pombal. Os dois últimos, embora tenham o mesmo sobrenome, são de famílias diferentes.
Carlos Pessoa não se considera um remanescente do coronelismo. Pessoa afirma que os coronéis tomavam terras e ele mantém 150 famílias em sua fazenda de 3.000 hectares. Diz ter doado vários pedaços de terra da sua propriedade a trabalhadores rurais, mas se declara contra a reforma agrária.
Aloysio Pereira (PFL), 70, é deputado estadual há 24 anos e foi secretário de Saúde do Estado por duas vezes. Ele afirma que vendeu todas as terras deixadas pelo pai e que não prepara nenhum herdeiro político para continuar a tradição da família. O deputado nega ser coronel e ter o controle de "currais" eleitorais.
Francisco Pereira, 81, mora numa fazenda em Pombal (372 km a oeste de João Pessoa). Foi deputado estadual por 36 anos e prefeito de Pombal duas vezes.

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