São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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Iniciativa de Moscou torna ataque improvável

HUMBERTO SACCOMANDI
DE LONDRES

A intervenção diplomática russa foi decisiva para evitar o envolvimento ocidental na guerra civil na Bósnia. Ao se oferecer para intermediar o conflito, a Rússia deu aos seus aliados sérvios a possibilidade de uma retirada honrosa. Isso praticamente eliminou a ameaça de ataques aéreos da Otan.
Essa é a avaliação do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres (IIEE), um dos mais importantes centros de pesquisa militar do Ocidente. "Um ataque agora não faz mais sentido, desde que os sérvios continuem a recuar", disse à Folha o coronel Andrew Duncan, do IIEE.
Desta vez a Otan não estava blefando, segundo Duncan. Os dois principais indícios disso foram o envolvimento da França no ultimato e a posição agressiva de países como o Reino Unido e o Canadá, que antes não concordavam com um ataque aos sérvios.
"O mérito disso é dos EUA. A credibilidade da aliança estava em jogo. Se essa ameaça de ataque não fosse respeitada pelos seus parceiros, os EUA poderiam até considerar abandonar a Otan", afirmou Duncan.
O IIEE acredita que as armas retiradas das proximidades de Sarajevo poderão ser deslocadas para outras regiões da Bósnia. "Já houve um aumento da atividade militar sérvia em outras regiões, como Bihac", disse Duncan.
Paul Beaver, editor da "Jane's Defense Weekly", observou que os sérvios estão retirando suas peças de artilharia de Sarajevo, e não colocando-as sob controle da ONU. "Pode haver uma nova ofensiva em preparação no norte da Bósnia", afirmou. "Sarajevo, porém, era um objetivo prioritário. Depois de controlada a situação e de estabalecida a paz na cidade será possível intervir em outras regiões e pressionar as outras partes em conflito", disse o coronel.
Os estrategistas militares não descartam totalmente, no entanto, a possibilidade de um ataque. Basta que recomece o bombardeio à capital bósnia. "Operacionalmente não há problemas, a Otan pode atacar a qualquer minuto. Ela tem informações suficientes sobre os alvos, os pilotos estão familiarizados com o país, há estações de controle em terra."
A defesa aérea dos sérvios na Bósnia é composta sobretudo de mísseis terra-ar soviéticos e versões feitas na ex-Iugoslávia. "São armas ineficentes", disse Duncan.
Ele admitiu, porém, que a decisão de lançar ataques é puramente política. "Os militares sempre foram contra, pois os sérvios podem facilmente esconder suas armas e a operação poderia, assim, ter pouco resultado prático."

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