São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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Ameaça aérea reflete a impotência ocidental

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a ameaça de ataque aéreo, a Otan está procurando mostrar serviço e justificar sua existência no mundo pós-Guerra Fria, mas a ferramenta escolhida não é a mais indicada. Oficialmente, a aliança ocidental nunca entrou em combate, já que sua missão era defensiva, servindo como escudo contra um ataque (que não veio) soviético. Usar aviões, porém, é um reflexo claro da impotência e falta de vontade ocidentais, mesmo que eles entrem em ação expirado o ultimato. E pode servir para ampliar, e não conter, o conflito.
A Guerra do Golfo (1991) difundiu a crença exagerada no poder "cirúrgico" das forças aéreas de destruir alvos pequenos e determinados, teoricamente sem afetar o que está em volta –os "danos colaterais" (geralmente civis). Essa crença vem desde os anos 20, quando teóricos do poder aéreo argumentaram que somente os aviões bastariam para vencer as guerras.
Esse erro justificou os bombardeios indiscriminados da Guerra Civil Espanhola (vide Guernica, arrasada pelos alemães) e da Segunda Guerra (Dresden, Tóquio e Hiroxima, arrasadas pelos aliados). E agora a mesma crença serve de panacéia para mascarar a falta de estômago da Otan de intervir em terra, a única maneira efetiva de quebrar o cerco a Sarajevo.
Apesar dos riscos de acertar civis e de ser um fim em si mesmo, se não acompanhado de outras medidas, o bombardeio tem um valor pouco mencionado: o "psicológico", segundo lembrou à Folha o especialista norte-americano Eliot Cohen em entrevista recente. Os momentos históricos em que as forças aéreas foram decisivas foram aqueles em que o controle do céu, a "superioridade aérea", esteve nas mãos de apenas um dos lados. A sensação de terror absoluto vindo dos céus, de noite ou de dia, quebrou o espírito do temível Exército alemão na Segunda Guerra. Pode muito bem dissuadir os sérvios.

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