São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 1994
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Magri se contradiz em depoimento ao STF

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro do Trabalho e da Previdência Social Antônio Rogério Magri acusou ontem a deputada Cidinha Campos (PDT-RJ) e o ex-diretor do INSS, Volnei Ávila, de terem feito uma "trama" para acusá-lo de corrupção. Durante o depoimento, Magri se contradisse várias vezes e acabou provocando uma discussão entre o ministro-relator no STF (Supremo Tribunal Federal), Carlos Velloso, e seu advogado, D' Alembert Jaccoud.
Velloso perguntou a Magri quem havia feito a gravação da conversa em que ele diz a Ávila que recebeu US$ 30 mil para liberar recursos do FGTS. Magri disse achar que havia sido Ávila. Em seguida, pediu retificação: disse não saber quem havia gravado.
O ministro Velloso manteve a primeira afirmação e mandou que a escrivã colocasse a retificação. Ele perguntou a Jaccoud se sua "vontade" havia sido satisfeita. "Não tenho vontade. Só quero que fique consignado o que meu cliente disse, e ele disse que não sabe". Irritado, Velloso respondeu: "Só que ele declarou que 'achava'. Como infelizmente não há um gravador sobre esta mesa, e o interrogatório é uma peça da defesa, vou admitir a retificação".
Outra contradição de Magri foi quanto à sua voz. Primeiro, ele reproduziu o que declarou na CPI que investigou o caso. Disse que a fita era inaudível e que não poderia dizer se a voz era sua ou não. Depois, negou veementemente que a voz fosse sua.
Magri começou o depoimento dizendo não ter nada contra as testemunhas arroladas pela acusação, entre elas Ávila e Cidinha Campos. No final, afirmou que Ávila era "homem do general Agenor (Homem de Carvalho, ex-chefe do Gabinete Militar do governo Collor), que parecia colocado lá (no INSS) para outra coisa". De Cidinha Campos, Magri afirmou que ela "não merece nem o meu respeito". O ex-ministro negou ter liberado verbas do FGTS para o Canal da Maternidade, no Acre.
Magri também mostrou que continua tendo problemas com a língua portuguesa. Durante o depoimento, tentando explicar o diálogo que manteve com Volnei Ávila, o ex-ministro disse que "dava corda para permitir a ele invadir (sic) sua personalidade". O ministro Carlos Velloso mandou traduzir a expressão confusa por "conhecer seu pensamento". Em seguida, Magri definiu Ávila como um homem "insinuoso e escorregadio" e "monossílabo".
Contagiado pelo clima de gafes, o ministro Velloso trocou FGTS por "FGTF" e se confundiu com o nome do ex-ministro. Por três vezes, chamou Magri de "Volnei Magri". Na última, não conseguiu conter o riso e pediu desculpas.

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