São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 1994
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Comic-Con fará homenagem a Jack Kirby

ROGÉRIO DE CAMPOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Super-Heróis Comic-Con, a convenção de quadrinhos que começa no dia 7 de março em São Paulo, terá como grande homenageado o desenhista Jack Kirby. "Depois do Super-Homem, Kirby é provavelmente a mais importante figura na história dos gibis". Assim começa o verbete "Jack Kirby" na rigorosa e séria "The Encyclopaedia of American Comics", de Ron Goulart.
Não é exagero. Se o Super-Homem foi o personagem que em 1938 detonou a inesgotável onda de super-heróis e inaugurou a Era de Ouro dos quadrinhos, foi o desenhista quem deu aos gibis o vocabulário que eles têm hoje. Super-Homem morreu em 92. Agora foi a vez de outro herói: Kirby morreu no último dia 6, vítima de um enfarte.
A prova da importância de Kirby está em qualquer banca de jornal, nos personagens criados pelo desenhista. São o Capitão América, Hulk, Homem-Aranha, Surfista Prateado, o Thor, Homem de Ferro, X-Men, Quarteto Fantástico ou qualquer outro de mais de 430 heróis, vilões e monstros.
Essa importância de Kirby pode ser medida em números. Ele é disparado o mais prolífero artista dos quadrinhos: produziu algo em torno de 21 mil páginas, pelo menos 2.600 HQs. Outro recorde é ter ficado de 58 a 78 publicando ininterruptamente pelo menos um gibi por mês.
Kirby (pseudônimo de Jaco Kurtzberg, nascido em 28 de agosto de 1917, em Nova York) foi fundamental para a sobrevivência da indústria dos quadrinhos. Quando ele assumiu a produção dos gibis da Marvel, no final dos anos 50, era dado como certo que os quadrinhos não teriam mais espaço em um mundo dominado pela televisão. Kirby fez o que seus fãs Steven Spielberg e George Lucas fariam depois para salvar a indústria cinematográfica: ofereceu ao público jovem algo que eles nunca teriam na telinha pequena da TV: um show épico, galáctico, de efeitos especiais coloridos.
"Selvagemente criativo" é a definição de John Romita (o desenhista de clássicas HQs do Aranha) para Kirby. Romita conta como, naqueles anos da Marvel, Kirby criava pelo menos um herói ou super-vilão por mês."Ele era tão criativo que inventava um grande personagem e logo nas páginas seguintes jogava-o num vulcão. Stan (Lee, editor e roteirista da Marvel) ficava louco: 'Você ficou maluco, Jack? Eu podia fazer esse herói render pelo menos uns cinco anos!' ".
Ninguém em seu universo é fraco, nem mesmo as vítimas. Kirby sonhava um mundo de titãs, gigantes, em batalhas destruidoras de mundos.
Sua marca registrada eram suas máquinas. Nem mesmo os futuristas de Marinetti amaram as máquinas tanto como Kirby. Elas cobrem páginas e páginas. Gigantescas e indiferentes aos homens, como se fossem deuses. Na maior parte das vezes nem tinham utilidade, porque afinal deuses têm que ter utilidade? "Minhas máquinas, por menos importantes que sejam, têm que ser incomuns. Não quero ninguém olhando minhas máquinas e pensando que já as viram em algum outro lugar antes".

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