São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
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Petrobrás inaugura maior plataforma do mundo

MARCELO LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 01/03/94 A reportagem contém duas incorreções. A área do convés superior da plataforma P-18 é de 5.320 metros quadrados e não de 6.720 metros quadrados. Diferentemente do que afirma a legenda da foto, ela mostra a P-18 montada sobre o navio Transshelf, durante o transporte desde Cingapura, e não Paranaguá.
No momento em que esquenta na revisão constitucional o debate sobre o monopólio estatal do petróleo, a Petrobrás está para ganhar um cartão de visitas de US$ 272 milhões. Será batizada amanhã em Paranaguá (PR), a 90 km de Curitiba, a plataforma de produção Petrobrás-18 (P-18), que quando entrar em operação na bacia de Campos (RJ), em abril, será a maior do mundo em seu gênero no processamento de óleo e gás: 100 mil barris por dia, um acréscimo de 15% à produção brasileira.
Trata-se de uma espécie de navio gigante, com dois cascos semelhantes a submarinos, que terá 23 m de seus 43,9 m (veja quadro ao lado) submergidos quando for ancorado no campo Marlim. Para afundar, usará um lastro de 15 mil toneladas de água. A função dessa usina flutuante é receber o óleo misturado com água e gás de 16 poços perfurados –o mais profundo a 1.030 m– que vem por tubos flexíveis de 10 cm de diâmetro estendidos no fundo do mar, separá-los e bombeá-los para terra.
Há outras plataformas de produção com capacidade de processamento maior do que os 100 mil barris/dia, mas nenhuma flutuante, informa Fernando Barbosa, 38, da Tenenge (Técnica Nacional de Engenharia Ltda., empresa do grupo Odebrecht). Ele gerenciou o contrato de construção da P-18, entregue ao consórcio formado em 1991 pela Tenenge e uma empresa de Cingapura, a Fels (Far East Levingston Shipbuilding, do grupo Keppel).
A construção teve duas etapas. A primeira, encerrada em março do ano passado, foi realizada em Cingapura e envolveu a construção propriamente dita da plataforma, na qual foram empregadas 12 mil toneladas de aço japonês. A segunda fase, por assim dizer de acabamento (tubulações e fiações, interligação dos sistemas, montagem de instrumentos, alojamentos), ficou por conta dos brasileiros e aconteceu em Paranaguá.
A viagem de mais de 30 mil quilômetros entre Cingapura e Paranaguá durou 34 dias foi feita pelo sistema de "dry-tow" (reboque a seco). Um navio especial de bandeira russa, o Transshelf, submergiu até o convés, inclusive, para que sobre ele pudesse ser "montada" a P-18, flutuando. O navio então se desfez do lastro e ergueu a plataforma para fora d'água.
Financiamento
Só o transporte desde Cingapura custou US$ 2,5 milhões, não computadas as despesas com seguro. A Tenenge respondia por tudo, porque foi contratada no sistema de "turn-key", segundo o qual o construtor é responsável por todo o projeto, do detalhamento à entrega e testes da plataforma. Isso envolveu compras de materiais e equipamentos de fornecedores espalhados pelo mundo, do Japão aos EUA, da Escandinávia ao Brasil. "O gerenciamento foi nosso maior desafio", afirma Barbosa.
O financiamento da operação, pela "trading" japonesa Nissho Iwai, não implicou desembolso da parte da Petrobrás. A Brasoil, sua subsidiária, entregou a P-18 de volta aos japoneses pelo valor do financiamento e a recebeu imediatamente de volta sob a forma de leasing. Graças a isso, só começará a pagar sua dívida de US$ 272 milhões, pelo prazo de dez anos, quando a plataforma começar a produzir petróleo.

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