São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Uma seleção mais fria do que picolé

Time do Teimoso está envelhecido
MARCELO FROMER
NANDO REIS

MARCELO FROMER; NANDO REIS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Como todos os brasileiros, nós também estamos ansiosos e preocupados com a nossa seleção. E não é para menos. Esta seleção na realidade não tem nada de nossa. Esta é a seleção do Teimoso, do velho Zaga, do Havelange, mas não é a seleção do Brasil pelo simples motivo de que não reflete em absoluto o futebol que está se jogando hoje no Brasil. Esta seleção que já está escalada precocemente, é uma seleção envelhecida e não apenas na idade.
Causa preocupação e irritação saber que a nossa comissão técnica já tem seu grupo escolhido e fechado. Irritação essa que já se estende às mesas redondas, aos artigos especializados e ao bate-papo do torcedor. Dizem até que, por questão de coerência, deveríamos trocar o nosso patrocinador. Em vez de representarmos o calor que só se refresca com uma cerveja, estamos mais próximos de gelarmos os ânimos com uma seleção mais fria que um picolé. Parece que só a Kibon poderia ser nosso patrocinador...
Mas como nós frisamos diversas vezes nesta coluna, e todos estão carecas de saber, este esquema que pregam nossos dois apóstolos do futebol defensivo e covarde poderá até nos trazer o título, mas dificilmente vai trazer de volta o prazer de ver em campo o desconcertante gênio do futebol brasileiro. Mais até do que o título, nós precisamos recuperar a nossa identidade futebolística.
O fato é que todos sentem que a inflexibilidade do Teimoso não tem limites, e que dificilmente ele irá mudar de conduta. E no ímpeto da colaboração, cronistas, analistas e torcedores, todos têm tentado dar a sua contribuição. Matinas, por exemplo, ousou e passou para as linhas do mesmo jornal a idéia de um ataque arrasador. Um ataque irresponsável no bom sentido da palavra. Com estes cinco poderíamos nos tornar o problema mais sério para as defesas inimigas nesta Copa. Mas há o outro lado da moeda, e não se trata de se fazer alarde estéril sobre disciplina. Concordamos plenamente com a convocação dos cinco do Suzuki, mas fazendo o papel de advogados do Diabo, esta mesma "irresponsabilidade" fora das quatro linhas poderia nos causar problemas. Uma constelação de craques é meio caminho andado, mas não é o suficiente.
Salvo Bebeto, temos entre estes cinco um Muller emocionalmente instável, um Romário desagregador, um Dener semidesajuizado e um Edmundo recém-regenerado.
Citemos como exemplo o episódio ocorrido no ano passado envolvendo o excepcional Edmundo, quando este se desentendeu com alguns de seus colegas durante a campanha do Brasileirão. Se não fosse a habilidade, a austeridade e o jogo de cintura do Luxemburgo, o Palmeiras dificilmente teria superado os problemas de desarmonia e chegado ao título.
E aí chegamos ao ponto fundamental. Teria seu Zagalo a mesma diplomacia e inteligência para contornar uma situação dessas? E seu Parreira, saberia por um acaso usar sua autoridade para botar ordem na casa? Tudo leva a crer que não. Vide o caso Romário.
Mas o mais importante é que tudo isso vem mostrar o descontentamento generalizado com o modo de agir da dupla marcha-ré. Parece que finalmente todos acordaram. Pena que talvez já seja tarde. Mas antes tarde do que Dunga.

Com o Teimoso só faltam 108 dias para começarmos a perder mais uma Copa.

Texto Anterior: Telê explora laterais e vence mais um duelo
Próximo Texto: América empata fora de casa e mantém quarta colocação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.