São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 1994
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A new wave vai voltar, mas relaxe, podia ser bem pior

ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Esse negócio de "revival" está dando nos nervos. No último ano já tivemos a redescoberta dos anos 70. Primeiro em seu lado mais cafona e festeiro, depois no mais punk –com todos os vazamentos extra-musicais que sempre aparecem. Aquelas cafonálias de costureiro "se inspirar" no punk.
Agora já dá para sentir cheiro de new wave no ar. Se todo mundo vai começar a usar roupinha xadrez verde-limão de novo, sabe-se lá. Os ingleses, que não tem nada para fazer (podiam dar um jeito naquele país, que está ficando na rabeira da Europa, mas tudo bem) acabam de inventar a "new wave of new wave".
Nosso amigo Camilo Rocha mora lá em Londres e diz que essas novas esperanças brancas não são de jogar fora não, que não ficam muito a dever para o pós-punk velha guarda e que não é só pose: os caras realmente detonam, se entopem de anfetas e tal. A maioria das bandas ainda nem tem primeiro disco. Mas se você é daqueles que não pode se sentir cinco minutos fora de sintonia com o underground gringo, encomende compactos de Echobelly, Smash, Elastica, Compulsion e Sharkboy.
Acho ótimo. A new wave foi uma das fases mais provocativas da história da música pop. Já que tem que rolar um revivalismo, pelo menos que seja de um período legal e variado.
Encrenqueiros E já que o lance é ressucitar a new wave, que tal o PIL voltar a fazer algo que preste? Você sabe quem é PIL? Você lembra do Johnny Rotten dos Sex Pistols? Sabe que ele teve uma banda muito legal depois? Quantos anos você tem?
Também, não interessa. Ninguém tem idade certa para ouvir música legal. E eu, aliás, descobri só há um ano uma das minhas bandas favoritas no momento, o Cactus (que é do começo dos 70).
O Public Image Limited era uma bandaça quando rock inglês era o grande lance. Tinha o "Flowers of Romance", o "This Is What You Want, This Is What You Get". Aquele ao vivo caidaço. O primeiro disco, com o Keith Levene e o Jah Wobble. E "Album", um superclássico conceitual meio subestimado, com "o" supergrupo dos anos 80 por excelência. Era Lydon, o então menino-prodígio Steve Vai na guitarra, o superprodutor Bill Laswell no baixo e Ginger Baker, o alucinado do Cream, na bateria.
Aí Lydon começou a fazer lá seus disquinhos de carregação. Foi triste. Mas a grana deve estar apertando, porque Lydon está de volta ao ringue e a perspectiva é promissora.
Em 93 ele emplacou um hit dance bizarro com o Leftfield. Agora vem a alvissareira notícia: o próximo disco do PIL será produzido por Al Jourgensen, o podrão picareta do Ministry e dos Revolting Cocks. Um grande encrenqueiro dos 70 e um grande encrenqueiro dos 90. Nem preciso ouvir para jurar de pé junto que é um dos melhores discos do ano. Qualquer ano.
Tour Lembra muito, muito tempo atrás quando anunciei aquela tour Skank/Chico Science/Raimundos? Aquela turnê que vai cimentar definitivamente o novo jeito de fazer música neste país? Que vai ter bandas locais abrindo e tal?
Pois ela está fechada, acertada e confirmada. Começa em abril, no Recife, durante o já tradicional e altamente legal festival Abril Pro Rock, armação de um cara chamado Paulo André. Mais detalhes em breve.
Rap sério Falando de rap outro dia esqueci de encher a bola de um cara que merece. É o G.O.G.. O primeiro disco dele chama "Vamos apagá-los... com o nosso raciocínio" e merece ser ouvido. As letras saíram direto das manchetes e os samples são de quem conhece música. Você aí assobiando "Lorâburra", larga mão de ser mané e vai escutar quem pensa de verdade.

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