São Paulo, segunda-feira, 7 de março de 1994
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Williams

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Lula está com o rei na barriga. A pesquisa que deu o candidato ainda naqueles trinta pontos, apesar do assassinato de Oswaldo Cruz, acabou com a pouca humildade que ele tentava apresentar. O Jornal da Cultura e o Domingo Forte ouviram o petista, agora mais favorito do que nunca, e escancaradamente mais arrogante.
"Nossos adversários vão ter que correr muito para nos alcançar", declarou Lula. "Nós somos uma Williams, dirigida pelo Ayrton Senna. E eles estão num fusquinha."
O candidato petista estava falando de um adversário em particular, o ministro Fernando Henrique Cardoso, "que cresceu na preferência dos eleitores", como ressaltou a Cultura. Lula fez pouco caso e declarou que FHC não assusta o PT: "Deve estar assustando o PSDB, porque ele não consegue passar dos 11%"
Assustado ou não, Lula tratou de ameaçar o adversário. "Agora, é importante lembrar que, se o ministro Fernando Henrique Cardoso sair mesmo em abril, deixando uma inflação de 25%, ele estará deixando exatamente no tamanho que ele pegou. Ou seja, passamos um ano numa esteira e não saímos do lugar."
FHC –que anda com ares messiânicos, assustando gente de seu próprio partido, como Covas, que já teme ficar sem candidato– ganhou mais um dia de super-exposição neste domingo. Primeiro, foram vinte minutos no Programa Silvio Santos, no Topa Tudo por Dinheiro. Recebeu elogios do apresentador e fez promessas.
Depois, veio o melhor. O Domingo Forte reuniu empresários pesados de diversas áreas para uma longa conversa com o ministro. No mesmo dia, ele ganhou votos dos cidadãos comuns, com Silvio Santos, e de outros cidadãos nada comuns. Para os últimos, também fez promessas, Mas o seu sucesso teve uma razão maior.
No programa, perguntando, estava também Paulo Maluf. Foi como que um debate, para público restrito. Uma prévia, só para os empresários decidirem quem apoiar, entre os dois mais fortes adversários de Lula. Pois ganhou FHC. A pergunta, sobre o "golpe eleitoral" do plano, foi ingênua demais para tal público.
E permitiu que FHC fechasse o programa batendo no peito sua "postura patriótica". Sob elogios gerais.

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