São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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"Filme de Spielberg é bom", diz viúva

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Emilie Schindler, viúva de Oskar, gostou do filme de Steven Spielberg sobre seu marido e a lista de judeus que ele salvou em sua fábrica. Emilie, 86, vive em uma casa em San Vicente, a 60 km de Buenos Aires. O casal emigrou para a América do Sul em 1949. O marido a deixou em 1957, foi para a Alemanha, e nunca mais voltou. Emilie, que tem problemas de saúde e anda de bengala, assistiu pela terceira vez o filme sobre os "judeus de Schindler" na terça passada, em Buenos Aires. A exibição foi promovida pela comunidade judaica da cidade.
Emilie não queria muito ir, mas como disse em uma entrevista à Folha, por telefone, "não podia deixar de aceitar um convite da B'Nai Brith; eles me ajudaram muito e continuam me ajudando. Mas eu não gosto de rever aquilo. Me deixa abatida, mais doente". Embora em uma primeira entrevista, em outubro do ano passado, tivesse dito que Oskar era um "estúpido", desta vez, emocionada, ela preferiu esquecer a mágoa.
*
Folha - A senhora já viu o filme de Spielberg, "A Lista de Schindler"?
Emilie Schindler - Já, duas vezes. Hoje (terça passada) vou vê-lo de novo, a convite da comunidade judaica daqui, e da B'Nai Brith.
Folha - A senhora gostou?
Emilie - Muito. Acho que o filme mostra bem o que aconteceu. Foi aquilo que aconteceu, na verdade. Não acho que se pode falar muito sobre as atrocidades que aconteceram, mas também acho que é preciso lembrar. O que aconteceu foi tão horrível que as pessoas querem esquecer. E o filme de Spielberg é excelente.
Folha - O filme é preciso em sua reconstituição da história da fábrica, da lista feita por seu marido e da salvação das pessoas que estavam nela?
Emilie - Acho que sim. O filme é muito melhor do que o livro (de Thomas Keneally).
Folha - Por quê?
Emilie - Porque ele, Spielberg, é muito mais inteligente.
Folha - O ator que interpreta seu marido é parecido com ele?
Emilie - Sim. Eu me lembro de Schindler ao vê-lo. Acho que o ator faz seu trabalho muito bem.
Folha - E a atriz que interpreta a senhora, o que achou dela?
Emilie - Olhe, ela está muito bem. Além disso, ela é muito simpática, muito amável. Eu falei com ela quando fui a Jerusalém, a convite de Spielberg, para filmar a última cena do filme. Todos os integrantes da equipe foram muito amáveis comigo.
Folha - A senhora acha que o filme merece um Oscar?
Emilie - Acho que sim, mas eu não posso prever. Sei que em todos os lugares onde o filme passou, todos gostaram do trabalho.
Folha - O filme pode ajudar-nos a aprender com o que aconteceu, a evitar a repetição?
Emilie - Veja, eu acredito que sim. Mas o filme, apesar de excelente, ainda é muito distante do que aconteceu. É mais fraco do que a realidade. Na verdade, o que fizeram com as pessoas era muito pior, muito pior. Acho que se as pessoas hoje em dia vissem o que exatamente aconteceu, diriam que tudo era mentira. O que o filme mostra já é suficientemente assustador.
Folha - A senhora se emocionou muito ao ver o filme?
Emilie - Na verdade, eu nem vi o filme direito. Dói muito. Eu vi aquilo pela primeira vez nos anos da guerra. Eu não queria rever isso tudo. Não me faz bem. Fico doente. Quando fui participar da última cena do filme, fiquei doente. Tive que ficar um tempo em cadeira de rodas. Eu não queria ver, mas acho que é uma obrigação. Não poderia deixar de aceitar um convite da B'Nai Brith. Eles me ajudaram e continuam me ajudando. Mas, eu não gosto de rever aquilo. Me deixa abatida, mais doente.

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