São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

25% das escolas do país não têm banheiro

GILBERTO DIMENSTEIN
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

25% das escolas do país não têm banheiro
Relatório federal sobre 192 mil estabelecimentos revela que em 27% deles não existe água nem de poço
Em 70% das escolas públicas brasileiras não existem banheiros ou eles funcionam precariamente. Esse é o dado mais alarmante de um detalhado perfil do ensino de 1º grau realizado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada), do Ministério do Planejamento.
Os números da pesquisa também ajudam a desmontar a tese, largamente difundida, de que a criança deixa a escola apenas por causa da pressão econômica dos pais. Ela é expulsa da sala devido à ineficiência do ensino, marcada pela desqualificação dos professores e do currículo.
O levantamento foi realizado pelo pesquisador José Amaral Sobrinho, atualizando dados coletados inicialmente em 1985 sobre 192 mil estabelecimentos. Aqui estão matriculados 28 milhões de alunos.
Desse total de alunos, 72% estão defasados –ou são repetentes ou entararam na escola com uma idade além do que deveria ser o normal. De cada mil alunos que entraram na 1ª série, apenas 6.500 chegam ao final (8.ª série) sem repetir um ano. Todos os números se agravam ainda mais no Nordeste –e chegam ao extremo no interior dessa região.
Banheiros
Uma parte da pesquisa detalhou as condições físicas das escolas, obtendo resultados extremamente negativos. Mostrou que 25% delas não têm nenhum banheiro. Em 27% dos estabelecimentos de ensino não existe sequer água –nem de poço. No meio rural, este número sobe para 33%. E 48% não dispõem de energia elétrica. Apenas metade das escolas é servida por algum tipo de esgoto.
Só 27% dos prédios estão em boas condições –leva-se, aqui, em conta, por exemplo, a limpeza das instalações ou buracos no teto. Em 25% não há mesa para professor. Na região Nordeste, 47% não ofereciam bancos suficientes para seus alunos –na região Sul essa deficiência é de 10%.
Em 72%, não existe qualquer material didático –72% não têm, por exemplo, mapa. Para completar, dos 1,1 milhão de docentes registrados, 13% tinham apenas o primeiro grau completo. 44% o segundo grau.
Uma imensa parte das escolas são multiseriadas –alunos de diferentes séries ocupam a mesma sala, o que obviamente cria inúmeros problemas pedagógicos. Também a maioria delas (85%) não oferecia mais do que o 4.ª série –uma parte dessas escolas não vai além do 2.º grau. A concentração dessa deficiência está na área rural.
A maioria das escolas funciona em dois turnos. Mas é também comum encontrar estabelecimentos com cinco turnos –o aluno fica menos de duas horas na escola e, muitas vezes, é atraído só por causa da merenda escolar.

Texto Anterior: Terceira idade tem mais opções de serviço
Próximo Texto: Teto ameaça cair sobre os alunos no Recife
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.