São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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Crianças dividem cadeiras no interior de SP

DA FOLHA VALE

Salas de aula superlotadas, falta de vagas, demissões de professores e alunos menores de idade obrigados a frequentar cursos noturnos foram as marcas da primeira semana no ensino público estadual em São José dos Campos (97 km a nordeste de São Paulo). O motivo da confusão, que atinge os 500 mil alunos que começaram as aulas no início do mês de março, são as novas regras na Secretaria de Estado da Educação.
Uma portaria decretada recentemente exige que as classes tenham no mínimo 35 alunos matriculados, mas não estipula o número máximo permitido. Segundo a Delegacia Regional de Ensino, a mesma portaria foi responsável este ano pela desativação de 744 salas de aula (732 no 1º grau e 12 no 2º) na região do Vale do Paraíba e litoral norte do Estado.
A cidade mais atingida pelos cortes foi São José dos Campos, onde a maioria das classes tem em média 50 alunos. "Alfabetizar assim é quase impraticável", diz o diretor da escola Edgard Mello de Castro, no Campo dos Alemães (zona sul da cidade), Dalton Carvalho de Araújo.
Na escola estão matriculados, por classe, uma média de 40 alunos. Eles dividem um espaço de pouco mais de 20 metros quadrados. Alguns alunos têm que dividir a carteira com os colegas. "Às vezes não dá para escutar o que a professora fala", diz Leonardo Roberto Borges, 7.
A Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) quer sugerir mudanças nestas regras. "A Apeoesp entende o que vai acabar ocorrendo: remoções de alunos para escolas mais distantes, a demissão dos professores admitidos em caráter temporário e a inviabilização do aprendizado. Para evitar isso vamos usar todos os recursos, inclusive a Justiça", afirma Roberto Felício, 42, presidente do órgão.
O delegado regional de ensino, Syllas Eduardo Pucinelli, 55, diz acreditar que não faltarão vagas. "A resolução apenas corrige falhas anteriores. Antes, por exemplo, se havia uma sala com 35 alunos éramos obrigados a dividi-la. Dariam, então, 15 alunos por classe. Com a medida, o Estado racionaliza recursos", diz. Pucinelli não soube informar quanto essa racionalização vai representar para a delegacia em termos financeiros.
O secretário estadual de Educação, Carlos Estevam Martins, disse que é necessário instituir a obrigatoriedade de se formar as classes com no mínimo 35 alunos para racionalizar recursos. O secretário afirma que a resolução não afetará a qualidade final do ensino.
"Essa é a idéia. Tem que se tentar isso. Em breve teremos ainda outra resolução, segundo a qual as matrículas têm que ser confirmadas no décimo dia letivo de março", disse.(Isnar Teles)

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