São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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Colégio de São Paulo tem aulas de Ética e Cidadania

Matéria que substituiu Moral e Cívica lota classes

DA REPORTAGEM LOCAL

"Ética e Cidadania" foi a disciplina que o Colégio Pueri Domus, de São Paulo, escolheu para substituir a caduca e patrioteira Educação Moral e Cívica (EMC), extinta no ano passado por Itamar Franco.
As aulas de "Ética" do Pueri são assistidas até por alunos de outras turmas com horários vagos. "É uma das poucas que te estimula a pensar o que acontece à tua volta", diz Carla Caparroz, 17, do terceiro ano, presente à aula do primeiro.
Mesmo antes da extinção da EMC as escolas procuravam criar uma disciplina mais adaptada a um país em que se têm que vigiar políticos com o código penal na mão. Ou, menor, mas não menos importante, onde menores de idade de classe média cometem crimes de trânsito. "Temos alunos aqui que admitem que saem em bando com tacos de beisebol e 'detonam' o que encontram pelo caminho", diz Candelori, 36, professor de "Ética" e pós-graduando em filosofia na USP.
O professor e geógrafo Celso Antunes, diretor do segundo grau do colégio, diz que deu o nome à disciplina inspirado pelos acontecimentos políticos dos últimos dois anos. "Mas o nosso curso é mais amplo. Tentamos colocar em discussão valores como solidariedade e limites éticos das atitudes humanas", diz Antunes.
±Nas aulas, Candelori usa reportagens de jornais para introduzir seus temas e colocar toda a classe para falar. Na lista dos assuntos estão a campanha contra a fome, racismo, imigração nordestina, aborto, corrupção política e aborto. "Tem gente que acha a aula inútil. São as mesmas pessoas que acham que sua responsabilidade social se limita a pagar impostos", diz Letícia Zioni Gomes, 16. "É preciso cobrar o governo para as coisas funcionarem", completa Bruno Fanizzi, 15. Fanizzi conta que antes das discussões em aula era uma pessoa de "extrema direita", que não pensava nas suas opiniões.
"A aula é boa porque o professor jamais impõe a opinião dele. Ele levanta a discussão e deixa o conflito de idéias rolar", diz Manoela Nicoletti, 15. Segundo Candelori, seu curso é de "sensibilização" para temas éticos. "Eles não suportariam a aridez da teoria, mas discuto temas como espaço público e privado através de fatos como o comportamento do Itamar no Carnaval", diz.

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