São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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Semana foi toda da mulher

WALTER CENEVIVA
DA EQUIQUE DE ARTICULISTAS

A semana foi vivida sob o signo da mulher. Além do dia internacional, em que o sexo feminino é especialmente saudado, vários eventos dignos de menção foram assinalados, nos pólos mais diversos da avaliação da mulher no mundo contemporâneo.
Por falar em mundo contemporâneo, tenho muita curiosidade em saber o que pensará da vida atual a brasileira de 123 anos que passa por ser a mais velha do planeta. Nascida em meados dos anos 80 (no século 19, como evidente), viu a libertação dos escravos, a proclamação da República, o primeiro vôo de Santos Dumont –do qual é possível que não tenha ouvido falar até hoje– e teve a possibilidade de ver o homem pousar na Lua. Terá absorvido a informação de todas as mudanças?
A mulher conquistou muitos direitos neste século. No Brasil foi apenas em 1962 que a lei deixou de considerar a mulher casada relativamente incapaz, equiparada aos índios e subordinada ao marido, pois este era o chefe da sociedade conjugal (Código Civil, artigo 233).
Saindo do Brasil e passando para o mundo, o panorama é paradoxal. No Irã, a semana marcou a lapidação de uma esposa, acusada de adultério. Há países em que a mulher adúltera é morta a pedradas, em atos dos quais participam outras mulheres. Dirão alguns que isso é resto de uma civilização medieval. Mas, onde se colocaria, nesse quadro, a chamada "casa dos horrores" na civilizadíssima Inglaterra? Na casa, onde viveu, até ser preso, um empreiteiro de obras, foram encontradas várias ossadas. Aparentemente de mulheres, que ele teria matado e enterrado. Com a ajuda de sua mulher. Com a anotação trágica de que uma das vítimas era sua filha.
A pluralidade de exemplos passa pela prostituição infantil, incentivada pelo rebaixamento do "sex-turismo" e pelas falsas "modelos" que, no passado, eram designadas por expressiva palavra de quatro letras. Isso me lembra que o comércio do corpo é visto, por muitos homens, como depreciação da mulher, esquecidos de que o "comércio" vive de homens clientes e homens exploradores.
Enquanto não se inventar o ventre artificial –não deve demorar muito– a maternidade dará a distinção básica entre os sexos. A prenhez é o milagre que a natureza reservou para fêmeas cobertas por seus machos. Milagre que a ciência ultrapassou parcialmente nas ovíparas, com as incubadeiras. Ultrapassou, ainda parcialmente com os bancos de sêmen para o gado de raça. E, também, para seres humanos, na fecundação em laboratório, no chamado "ventre de aluguel" ou até na fecundação artificial com óvulos ou espermatozóides de pessoas estranhas ao casal.
O direito das mulheres será substancialmente modificado pelos progressos da ciência, até a radicalização do ventre artificial. Este, porém, é um fato do futuro. No passado, a pílula e a profissionalização, com o trabalho fora de casa, alteraram conceitos milenares, relativos à família e aos bens de cada cônjuge (exemplo: bens reservados da mulher). Garantiram igual participação na "chefia" da casa.
A igualdade jurídica absoluta dos sexos, determinada constitucionalmente, simboliza o clímax do progresso. Deve, porém, ser acolhida com encanto e ternura. Por mais que o mundo progrida ou mude, nunca haverá nada melhor, para o homem, sábio ou medíocre, forte ou frágil, do que uma boa mulher que divida com ele as durezas e as doçuras da vida. E, vice-versa, para a mulher que encontre seu bom homem.

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