São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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USP também tem turma de calouros com mais de 60

Alunos se queixam da falta de opções de disciplinas

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando as aulas na USP (Universidade de São Paulo) começaram, no último dia 28, alguns calouros –cuja idade geralmente é de 17 ou 18 anos– tinham como colegas senhores e senhoras de mais de 60. Pelo terceiro ano, a universidade paulista cedeu algumas vagas para a terceira idade em determinadas disciplinas.
"A juventudade tem a cabeça mais aberta. Eu vou tentar acompanhar", diz o italiano Pietro Lorenzano, 62, que se inscreveu para disciplinas na ECA (Escola de Comunicações e Artes). Lorenzano trabalha com bufês e gostaria de ter se inscrito também em disciplinas da área de turismo, mas não havia inscrição.
A procura foi alta e em pouco tempo as vagas foram preenchidas, principalmente as da ECA, e de cursos de humanidades. Nem todas escolas cederam vagas, e, às vezes, são só uma ou duas por sala de aula.
Duas que se frustraram foram Santinha Goffi e Antonieta Betti, que queriam fazer na ECA disciplinas em artes e música, respectivamente. Mas as inscrições na ECA tinham acabado. Santinha vai esperar a próxima vez. Antonieta optou por tentar estudar computação.
Como é ter aulas junto com adolescentes? "É uma delícia. Eu me sinto quase na idade deles", diz Terezinha Almeida Martins, 60, supervisora de merenda escolar que terminou seu curso secundário recentemente. "Antes não podia estudar por causa dos filhos", diz ela, que queria fazer disciplinas em pedagogia. Ela também começou a estudar espanhol e inglês. Procura deixar seus colegas mais jovens à vontade. "Faz de conta que eu sou da idade de vocês", diz.
O português Jose Antonio Seguro de Carvalho, 70, autor e ator de uma peça sobre o descobrimento do Brasil encenada em Porto Seguro (fez o papel de Cabral), procurava vagas em teatro, história e francês, mas teve de se contentar com uma quarta opção, psicologia.
Muitos preferem uma disciplina da área médica, sobre o processo de envelhecimento. Seguro de Carvalho descarta a idéia. "Envelhecimento? Já estou diplomado nisso."
Sesc
Além da USP, instituições como o Serviço Social do Comércio (Sesc) oferecem opções de aprimoramento cultural para um público cuja faixa de idade varia de 45 a 80 anos, segundo Oswaldo Gonçalves de Silva, da Gerência de Estudos da Terceira Idade do Sesc. Gonçalves diz que os cursos e atividades do Sesc se dirigem "às pessoas com disponibilidade de tempo livre para o lazer cultural".
Em três unidades do Sesc de São Paulo (Consolação, Vila Nova e Carmo) monitores e os participantes decidem que atividades vão desenvolver –podem escolher entre artes plásticas, corais, palestras com artistas e intelectuais convidados. Também podem fazer cursos de música e expressão corporal.

Colaborou a Reportagem Local

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