São Paulo, domingo, 13 de março de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
A inútil guerra dos preços
DA REPORTAGEM LOCAL A semana não foi boa para o Plano FHC. Entre outras coisas, verificou-se que muita gente dentro do governo, principalmente no lado político, não entendeu o programa. É o caso, por exemplo, do líder do governo no Senado, Pedro Simon, que chegou a sugerir um congelamento de preços, quando toda a estrutura do plano vai na direção contrária: deixar a sociedade se acomodar à nova moeda, sem intervenções do governo e sem controle de preços.Na verdade, se fosse para fazer controle de preços, o governo não precisaria ter inventado a Unidade Real de Valor, uma quase-moeda, na transição entre o cruzeiro e o real. Entre outras funções, a URV deve acumular toda a inflação corretiva que sempre ocorre no início dos planos de estabilização, quando as empresas aumentam preços defensivamente ou para se ajustarem aos novos custos. É por isso que na maioria dos planos anteriores se optou por um congelamento inicial para impedir inflação logo na estréia da nova moeda. Mas, como já se viu que o congelamento (ou controle de preços) não permite a acomodação dos preços e que, ao contrário, engessa relações de preços desalinhadas (causa de inflação futura), os formuladores do Plano FHC quebraram a cabeça para encontrar uma fórmula original. E acharam: é a fase da URV, onde a inflação corretiva e residual pode ocorrer sem contaminar a nova moeda. A expectativa é que este tipo de inflação desapareça depois que a sociedade se acostumar a um padrão estável. Mas, quando ela ocorre já na vigência da nova moeda, a prática da indexação acaba perpetuando esta inflação. No Plano FHC, a idéia é que esta inflação se dê na vigência da URV, sendo o real introduzido com os preços já acomodados. Mesmo dentro do governo, porém, surgiu a pressão por controle de preços. De um lado, isto é ação eleitoreira: atacar os "tubarões" sempre dá alguns votinhos. De outro, é ignorância: muitos políticos, inclusive dentro do Palácio do Planalto, acham que a economia de mercado é uma conspiração de empresários e banqueiros para espoliar o povo. Neste caso, o controle de preços deixa de ser um instrumento de política econômica para se tornar uma cruzada contra o mal. Ineficaz de qualquer modo. E entretanto é simples lidar com preços de modo permanente. Basta garantir a competição. Se há monopólio interno, importa-se. E se mesmo assim continuar havendo monopólio num produto essencial, aí o governo intervém. É o que se faz nas economias estáveis. Texto Anterior: O dilema do ministro Fernando Henrique Próximo Texto: Ibovespa sobe 20% no mês Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |