São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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Anúncio prévio do real preserva poupança

MARIO ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo deverá anunciar com antecedência a entrada em vigor do real para que o rendimento da poupança não seja "garfado" na terceira fase do Plano FHC. A afirmação é de João Baptista Gatti, presidente da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).
O anúncio deverá ser feito, no máximo, um pouco mais de um mês antes da mudança do padrão monetário. Isto é, da troca do cruzeiro real pelo real. "Se, por exemplo, o governo quiser introduzir o real no dia 1º de maio, ele deverá anunciar a nova fase do plano no dia 30 de março", argumenta o presidente da Abecip.
Assim, explica, as várias TRs do mês de abril já estariam refletindo as taxas de inflação dos meses de abril –ainda em cruzeiro real– e de maio –já com o real. Por exemplo: a TR do dia 10 de abril iria embutir a expectativa de inflação do dia 10 ao dia 30 de abril e da inflação entre o dia 1º e 9 de maio.
"Até 30 de abril, a inflação seria alta. Em maio, seria baixa. Os juros do CDB, que servem de base para a TR, refletiriam esse mix", afirma Gatti. Com isso, explica, o governo não iria "garfar" a inflação com prejuízo para o poupador. "Além disso, esta fórmula é juridicamente possível", afirma.
O que ocorreria com a caderneta é que, diariamente, a TR ficaria cada vez mais baixa, reduzindo o rendimento nominal da aplicação. É neste ponto que o governo poderá enfrentar um problema já verificado em planos anteriores.
A esperada queda da inflação na terceira fase do Plano FHC vai reduzir a dimensão dos rendimentos das aplicações financeiras. Os juros, que hoje superam os 40% ao mês, poderão cair para a casa de um dígito. Uma das preocupações do governo é que esta redução provoque uma fuga da poupança para o consumo, alimentando a inflação já na nova moeda.
Para João Baptista Gatti, quando o real entrar em vigor não deverá haver uma fuga da poupança para o consumo da mesma maneira como aconteceu no Plano Cruzado 1. "No Cruzado o saldo total da poupança caiu 25% em menos de seis meses", lembra.
"Hoje, se a poupança perder 25% do seu estoque total, US$ 6 bilhões vão entrar na economia", alerta Gatti. "Não interessa ao governo que esse dinheiro vá para o consumo", afirma.
Gatti compara o que ocorreu no período do Cruzado com o cenário projetado para a terceira fase do Plano FHC. Segundo ele, a combinação de dois fatores provocou a explosão consumista em 1986. "Ao mesmo tempo em que houve um ganho real para os salários no Plano Cruzado, os preços ficaram congelados", diz.
Agora, Gatti vê um cenário mais favorável para que não haja uma corrida às compras. "Na terceira fase do Plano FHC, o governo deverá manter os juros reais elevados", afirma. Gatti diz que com este plano "não há ganho real de salário e também não há congelamento de preços, que estão no pico. Além desses fatores, nós todos também aprendemos com o engodo que foi o Plano Cruzado", afirma.

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