São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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Mercado imobiliário prepara planos urvizados

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de compra e venda de imóveis, após a parada técnica com a edição da Unidade Real de Valor (URV), começou a dar sinais de vida no final da semana passada. A reação se deve à proximidade do dia 15, terça-feira. Nessa data entra em vigor a regra que diz que os novos contratos devem ser em URV e não podem ter reajuste inferior a um ano. Por isso, algumas empresas trataram de "urvizar" seus preços.
A construtora Encol e um consórcio entre a Goldfarb e a CGN (Plano Melhor) lançaram seus planos de venda atrelados à URV para fisgar os compradores antes dos concorrentes. As prestações se mantêm fixas em URV durante um ano. Depois disso, o saldo devedor é corrigido pelo Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas.
No contrato previsto pelo Plano Melhor, a cláusula que trata do intervalo do reajuste especifica também que se a lei mudar, ele será feito pela menor periodicidade permitida.
O diretor-superintendente da Encol, Dolzonan da Cunha Mattos, e o diretor comercial da Goldfarb, Tomás Nioac de Salles, dizem que não há entraves legais para fechamento desses contratos.
"Se houver inflação em real, as regras devem mudar", afirma Nioac de Salles.
A maioria das construtoras e incorporadoras, no entanto, ainda estão na defensiva: estudam as opções de contrato que não ferem as regras da Medida Provisória que regulamenta a URV.
O nó da questão, para Ely Wertheim, vice-presidente do Secovi, que reúne empresas de venda locação e administração em São Paulo, é a periodicidade dos reajustes que a partir de agora são anuais.
Como esses contratos são, em média, de oito anos, na opinião de Ely Wertheim, "pode ocorrer um descompasso entre a variação dos custos e do preço final do imóvel no longo prazo".
Com a mesma preocupação, Eduardo Zaidan, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil, adianta que o setor vai tentar influir no Congresso quanto a esse ponto na aprovação da Medida Provisória.
Riscos
Apesar do forte apelo de vendas que os planos "urvizados" têm, o consumidor deve pesar os prós e os contras antes de optar por um deles.
O risco de o negócio naufragar no meio do caminho aumenta, se a empresa com a qual se está firmando contrato não for sólida financeiramente. Isso se deve a dois fatores fundamentais. Um deles é o fato de os reajustes ocorrerem após um ano. O outro é que incorporadoras se financiam na poupança, cujo índice de variação não está atrelado à URV.
A longo prazo, os empresários da construção civil são unânimes em afirmar que o setor deve crescer se o plano der certo. Com a inflação baixa, o dinheiro do mercado financeiro acaba sendo canalizado para compra de "bens de raiz". E os imóveis estão no rol desses investimentos.(MCh)

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