São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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Mercado pára em São Paulo para 'digerir' as novas regras

Uso da URV nos contratos ainda é restrito

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Às vésperas do uso obrigatório da Unidade Real de Valor (URV) nos novos contratos, o mercado de locação ainda não deslanchou. Proprietários e candidatos a inquilinos se retraíram para digerir as novas regras.
O resultado ocorreu no sentido oposto do que se esperava: poucos negócios foram fechados pelo novo indexador desde o início de março. O preço pedido continua alto. É possível, no entanto, bater o martelo por valor menor.
O argumento dos inquilinos para baixar preço é a periodicidade da correção. Na lei em vigor até o dia 15, ela é semestral para locação residencial. Para os novos contratos em URV, passa a ser mensal, pelo menos até que a nova moeda entre em circulação. A partir daí, o reajuste será a anual.
"O mercado está engatinhando", diz Sérgio Luiz Abrantes Lembi, vice-presidente de locação do Secovi, sindicato que reúne empresas de administração, venda e locação de São Paulo. Os proprietários hesitam em fechar novos contratos. Segundo Lembi, eles temem uma possível inflação em URV ou em real e não sabem ao certo qual índice será aplicado na correção anual. Quem procura imóvel para alugar também está na espera: primeiro quer receber o salário em URV para depois assumir compromissos, diz.
O mesmo diagnóstico é de José Roberto Graiche, presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios (Aabic). "O mercado está se reaquecendo lentamente e a volta dos imóveis depende do sucesso do plano. Nestes primeiros 30 dias ninguém quer se arriscar", afirma.
Há, porém, quem já constatou alguma reação. José Carlos de Melo Rossi, diretor comercial da Camargo Dias Imóveis, informa que a oferta aumentou e os preços dos negócios fechados baixaram após a URV em sua imobiliária. Exemplo: antes do plano, um contrato cujo aluguel inicial pedido era de US$ 700 por um apartamento de dois dormitórios em Higienópolis, zona central, foi fechado por US$ 500 depois da URV.
As pesquisas de preços ainda não captaram essa queda porque trabalham com anúncios, isto é, preços pedidos. Com base nessas pesquisas, entidades que representam inquilinos recomendam cautela. "Deve-se aguardar que os preços, ainda altos, baixem um pouco antes de se fechar novos contratos", diz Plínio Rangel Pestana, presidente da Associação dos Locatários do Estado de São Paulo. Ele conta que tem recebido cerca 50 ligações diariamente de inquilinos. A principal queixa é que os proprietários, para escapar da conversão compulsória pela média como o governo teria anunciado, estariam forçando a conversão já de contratos antigos em cruzeiros reais para URV.
Waldir de Arruda Miranda, advogado especializado em locação, defende o acordo entre locador e locatário antes da conversão compulsória com a entrada em circulação da nova moeda. Para ele, se o inquilino tiver interesse em permanecer no imóvel, deve negociar um preço justo, uma vez que a oferta de imóveis continua escassa.

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