São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Alta de juros nos EUA inibe vinda de dólares

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

O que o governo mais queria aconteceu como por milagre, sem necessidade de intervenções antipáticas. O investidor estrangeiro, que inundou o país de dólares a partir de 1991, diminuiu seu apetite por papéis brasileiros e procura se recuperar do baque da elevação dos juros nos Estados Unidos. A contabilidade dos bancos internacionais é implacável: os investidores perderam, nas duas últimas semanas, cerca de US$ 500 milhões apenas pela posse de eurobônus brasileiros.
"O mercado se engessou, não há compradores nem vendedores", afirma Jordi Wiegerinck, vice-presidente do ING Bank. "As coisas se acalmam quando o governo americano quebrar a expectativa de que o juro vai continuar subindo e os compradores absorverem os prejuízos." Há um lote de US$ 11 bilhões em eurobônus, papéis de renda fixa vendidos por empresas e bancos brasileiros, nas carteiras dos investidores estrangeiros.
O estoque rendeu bons lucros em 1993. Mas foram devolvidos com a queda das cotações no mercado secundário de eurobônus, após a subida dos juros americanos em apenas 20 dias. "O juro americano não parava de cair há cinco anos", explica Candido Botelho Bracher, diretor financeiro do Banco BBA. "Isso levou muita gente a tomar dinheiro barato emprestado para comprar papéis de países emergentes. Com a alta repentina, essa estrutura desabou."
Segundo Thanatos Volpon, diretor do Banco de Boston, a economia americana se recuperou e trouxe junto o medo de inflação. "Como o ciclo da economia americana é mais longo, há a expectativa de que o juro continue subindo, o que travou as operações de vez", afirma. A expectativa criada se tornou mais importante. O juro de um ano subiu de 3% para 4%, mas os profissionais de Wall Street estão fervendo os miolos para tentar adivinhar se pára por aí, ou a ação do Federal Reserve foi apenas o começo.
A notícia não é tão ruim. "Deixa à mostra a evidência de que o Brasil faz parte do mundo, se globalizou", elogia Wiegerinck. Há outros aspectos positivos. Por conta desses eurobônus e da abertura das Bolsas brasileiras para o capital externo, o Brasil acumulou reservas de US$ 35 bilhões, um volume de dinheiro recorde que incomoda as autoridades brasileiras.
Segundo economistas, o ingresso de dólares obriga o aumento da emissão de cruzeiros reais. Potencialmente, essa é a fórmula para a fabricação de mais inflação.
Há um mês, o boato de que o governo iria colocar dificuldades para o lançamento de eurobônus alastrou-se como fogo em capim seco entre os operadores desse mercado. O resultado foi o registro de aproximadamente US$ 3 bilhões em novos lançamentos no Banco Central. Do total, US$ 1 bilhão em eurobônus já estava no check-in para tomar o rumo do exterior. Agora os projetos estão em compasso de espera.

Texto Anterior: Mercado pára em São Paulo para 'digerir' as novas regras
Próximo Texto: Breque dos investidores respinga nas Bolsas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.