São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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Breque dos investidores respinga nas Bolsas

DA REPORTAGEM LOCAL

Assustados com a força de convencimento dos juros americanos mais altos sobre a movimentação de capitais, os investidores internacionais pararam para pensar. O breque acabou provocando respingos nas Bolsas brasileiras. "Os mercados estão interligados e por isso o ingresso de dólares deu uma esfriada", afirma Jair Ribeiro, diretor da Salomon Brothers/Patrimônio. "O pessoal ainda está assustado com os acontecimentos nos Estados Unidos e só agora começa a retornar, aos pouquinhos."
O maior administrador de recursos estrangeiros no mercado de ações brasileiro, Julius Buchendorde, diretor de investimento do Chase Manhattan, recusa-se a dimensionar interpretações absolutas sobre o impacto dos juros: "Os dólares de curto prazo podem sentir e recuar, mas não os institucionais, que pensam no longo prazo."
Os dados do Chase mostram que continua entrando dinheiro nas Bolsas, mas em volume bem menor. Em março, houve ingresso líquido positivo de US$ 60 milhões pelas mãos do Chase. "A influência da subida do juro está mais ligada ao efeito indireto", afirma Buchenrode. "Com menor atividade nos Estados Unidos, as empresas exportadoras brasileiras podem reduzir sua rentabilidade, o que reflete na cotação de suas ações. Mas isso não se dá diretamente."
A impressão dominante entre aqueles que entendem do mercado é a de que a Bolsa sofre os efeitos, mas sem estardalhaço. "Eles pararam de comprar, mas já voltaram", afirma Paulo Alberto Schibuola, diretor geral adjunto do BFB (Banco Francês e Brasileiro).
Prova evidente de que o interesse continua, Schibuola recepcionou, na semana passada, grupos de investidores arregimentados pelo Crédit Lyonnais (controlador do BFB, um dos gigantes franceses do setor financeiro) para visitar o Brasil: "A primeira observação que fizemos é que nossos preços ainda são muito menores que os da Argentina, México e Chile."
Segundo George Rexing, diretor de investimento do Banco de Boston, acabou o ritmo frenético das ordens de compra de ações de empresas brasileiras. "O investidor tende a dar uma parada para ver o que acontece", afirma. "Nosso movimento, agora, não é mais de milhões de dólares, mas de milhares. Acho que depois dessa, o mercado vai ficar menos especulativo e com perfil de mais longo prazo."
Mas o Brasil está defronte a potenciais boas notícias, como o acordo com o Fundo Monetário Internacional e bancos credores, além do início da terceira fase do Plano FHC. Isso, segundo Paulo de Castro, diretor do Citibank, pode influir para reverter a insegurança do capital externo: "Desencadeia-se um processo onde um fato novo no plano interno pode ajudar na volta da normalidade."

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