São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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Corinthians é protegido por São Jorge

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Corinthians entra em campo esta tarde para enfrentar seu maior rival, o Palmeiras, protegido pela espada de São Jorge. Sim, porque só a fé explica o que aconteceu com o Corinthians nos últimos dias.
Domingo, esteve a pique de ser goleado pelo São Paulo, mas conseguiu um empate com bordas de ouro. Na quinta, diante do Bragantino, outra caminhada à beira do precipício, e a recuperação olímpica no final. Entre os dois empates celebrados como vitórias e duas derrotas humilhantes, que certamente teriam levado o Corinthians a uma daquelas crises peculiares no Parque, apenas o fio de uma navalha.
Assim, com ares de imbatível, mais a leveza de quem era a zebra entre os três de ferro do nosso futebol, o Corinthians espera hoje dar o golpe fatal: bater o Palmeiras, pular para o topo da tabela novamente e fixar a certeza de que é o verdadeiro escolhido para ser o campeão.
Mas aí está uma tarefa de que, talvez, nem São Jorge brandindo a Excalibur possa dar conta. Afinal, o Palestra vem de uma goleada histórica sobre o Boca Juniors, e, de passagem, na sexta-feira (ufa, é um jogo atrás do outro), se livrou do Santo André com um piparote.
Claro que os efeitos da maratona que se inicia no Parque Antarctica já deverão produzir seus malefícios. Mas o Corinthians também entrará em campo desfalcado. Além do mais, um clássico como esse, no fundo, atua como poderoso doping sobre os jogadores. E uma previsão segura só poderá ser feita depois do apito final do juiz.

Parece que o técnico Parreira começa a cogitar da possibilidade de chamar Mazinho para a seleção que enfrentará a Argentina dia 23, lá em Recife. Não seria apenas um prêmio a esse extraordinário jogador, que experimentou a amargura do fracasso nos seus primeiros dias de Palmeiras, mas que agora é o maestro desse brilhante campeão. A exibição contra o Boca é para ser recortada e colada no álbum de ouro do futebol brasileiro. Foi uma rara lição de como deve jogar um armador moderno: marcou, desmarcou-se, lançou, penetrou, alterou o ritmo do jogo de acordo com suas conveniências e quase perpetrou um gol de placa.
Mas não é por essa noite inspirada que Mazinho merece um lugar entre os 22 da Copa. É, sobretudo, porque se trata de um jogador versátil, capaz de ocupar com desembaraço e elegância as duas laterais e qualquer das três posições do meio-campo. E abençoada a seleção que possa dispor de jogadores desse calibre numa Copa do Mundo. Pois, embora nos Estados Unidos já se possa dispor de todos os convocados no banco de reservas, técnico nenhum deve dispensar jogadores de múltiplas funções. Isso porque contusões, indisposições, acidentes em geral, são fatos corriqueiros, numa competição tão curta e tensa como essa. Num dia, você tem dois laterais; no dia do jogo, nenhum.
Assim, Mazinho, Válber, Cafu, pra ficar apenas com três desses curingas que já têm experiência de seleção, deveriam encabeçar a lista do treinador. Nem que seja para servir de muleta.

Pelo jeito, só se o Betinho resolver acrescentar às suas patrióticas campanhas uma terceira, para salvar o Brasil na Copa: angariar toneladas de esparadrapos para serem enviadas a Barcelona. Destinatário: Romário, que agora abriu sua enorme boca para perfilar-se ao lado de Havelange contra Pelé. Seria trágico, se não fosse cômico.

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