São Paulo, domingo, 13 de março de 1994 |
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Eurico Miranda volta a ameaçar deputado
MÁRIO MAGALHÃES
Aos 49 anos, idolatrado por vascaínos, é visto pelas torcidas adversárias como o grande vilão do futebol fluminense, ao lado do presidente da federação de futebol do Estado, Eduardo Viana. Assegura, ao contrário do que indicam todas as pesquisas de opinião, que é do Vasco a maior torcida do país. Mais ainda: se diz um romântico e acredita ser de seu clube, e não de Palmeiras ou São Paulo, a mais moderna administração futebolística no Brasil. A seguir, os principais trechos da entrevista à Folha. Folha - As contratações de Ricardo Rocha, Dener e Luisinho têm como principal objetivo fortalecer sua candidatura a deputado federal ou levar o Vasco ao título estadual? Eurico Miranda - O objetivo maior é a conquista de um título inédito, o tricampeonato estadual. Tudo que nós temos assumido em relação ao campeonato é por causa desse objetivo. Quando nos pronunciamos contra a Liga Carioca e a qualquer modificação é porque temos a possibilidade de conquistar esse título. Folha - O senhor fará dobradinha com o vereador e ex-jogador Roberto Dinamite na eleição? O senhor candidato a deputado federal e ele, a estadual? Miranda - O Roberto é do PSDB. Eu, suplente de deputado federal pelo PPR. Mas meu partido é mais o Vasco do que qualquer outro. Folha - Seus opositores dizem que o sucesso do Vasco nos últimos anos se deve a uma aliança entre o senhor e o presidente da Federação do Rio, Eduardo Viana, para manipular arbitragens. Existe manipulação de arbitragem no Rio? Miranda - Claro que não. Talvez aconteça entre clubes de menor expressão. Entre grandes, é piada. No ano passado eu briguei com o presidente da federação. Folha - O senhor foi indiciado em inquérito da Polícia Federal por manipulação de arbitragem, estelionato e formação de quadrilha. O senhor teme ser condenado? Miranda - Em relação a mim isso não vai dar absolutamente em nada. Não sei em relação aos outros indiciados. Me indiciaram precipitadamente, açodadamente. É coisa orquestrada, dirigida. Folha - O jogador do Palmeiras Edmundo, ex-Vasco, disse que o senhor "não levou dinheiro na venda" do passe dele, como estaria acostumado a fazer na venda do passe dos grandes jogadores do clube. Antes, o senhor afirmara que vendeu Edmundo para o primeiro trouxa que apareceu. Miranda - Edmundo respondeu por mim. Veio ao Rio e deu declarações pedindo desculpas, dizendo que se precipitou, que não era nada disso, que eu era o padrinho dele. Folha - Um ex-conselheiro do Vasco, Sérgio Paulo Gomes de Almeida, afirma num dossiê que há mais de cinco anos o senhor não trabalha e tem padrão de vida muito elevado. Como o senhor ganha a vida? O mesmo dossiê relata que o senhor é dono de dois CPFs. Miranda - Este senhor foi eliminado do quadro social do Vasco por este tipo de atitude em relação aos dirigentes. Já o processei. Em relação a minha atividade profissional, sou advogado há 16 anos. Trabalhei com meu escritório e para uma empresa durante 14 anos. Só tenho um CPF. Folha - Em que empresa trabalhou? Miranda - No grupo Monteiro Aranha. Há um ano e oito meses deixei de trabalhar para esta empresa e continuei com minha atividade profissional. Fui vítima do açodamento deste delegado da Polícia Federal (Matheus Casado), que disse que eu não declarava meu Imposto de Renda. Folha - Qual é o seu patrimônio? Miranda - Um apartamento que faltam 13 anos para pagar no Sistema Financeiro da Habitação. Folha - Qual o valor dele? Miranda - Não sei. Folha - O que o senhor pensa da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre corrupção no futebol fluminense, cuja criação pela Assembléia Legislativa foi impedida pela Justiça? Miranda - Só tem finalidade eleitoreira para ajudar o presidente da comissão, deputado Sérgio Cabral Filho. Folha - O senhor qualifica o deputado Sérgio Cabral Filho como deputadozinho, moleque e pilantra. Por quê? Miranda - Porque ele teve a audácia de me chamar de ladrão e marginal. E não me chama outra vez de ladrão e marginal. Folha - Se ele o chamar novamente, o que o senhor faz? Miranda - Não sei. Ele não me chama outra vez de ladrão e marginal. Folha - O senhor retira a declaração de que esse assunto se resolve na Justiça ou com uma escopeta calibre 12? Miranda - Claro que não. Por que eu tenho que retirar? No Brasil hoje há dois caminhos para essa canalha: é a Justiça ou você se armar com uma 12 e sair por aí atirando neles. Folha - Quando for chamado para depor no inquérito da Polícia Interestadual sobre suas ameaças vai mantê-las? Miranda - Claro que sim. Folha - Várias testemunhas viram um segurança seu deixar cair um revólver em campo no último jogo entre o clube e o Flamengo. Miranda - Não é verdade. Não tenho segurança. O Vasco manda segurança do clube. São todos lutadores. Folha - O senhor sabe usar uma escopeta calibre 12? Miranda - Não sei se saberia usar. Não vou fugir nunca da minha responsabilidade. Quando você ouve um menino que você ajudou politicamente, financeiramente, o cara te conhece e diz que você é ladrão e marginal, não sabe qual a reação vai ter. Ajudei o Sérgio Cabral Filho e o pai dele. Ajudei financeiramente em campanha eleitoral. Folha - O que o senhor pensa do presidente da Federação Paulista, Eduardo José Farah, cujo patrimônio aparente é estimado em US$ 2 milhões? Miranda - As pessoas estão se preocupando muito com patrimônio. Mas não querem saber isso do dono do supermercado, do que tem um escritório de consultoria. Por quê? Folha - No futebol os fins justificam os meios? Miranda - Eu não preciso dizer da minha paixão pelo Vasco. Quando a gente diz que é capaz de tudo pelo clube, que o campeonato vale tudo, evidente que esse negócio é em termos. Vale tudo, respeitados alguns princípios básicos: o ser humano, a família, algumas instituições. Respeitados esses princípios, acho que em futebol os fins justificam os meios. 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