São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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Evolução tática é maior na beirada do campo

JÚNIOR

LEOVEGILDO LINS GAMA JÚNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nas últimas décadas, os laterais são os jogadores que mais têm evoluído no futebol. Sem dúvida, eles se tornaram os jogadores de maior importância para uma equipe. Além da tradicional função de marcação, eles funcionam como uma alternativa na armação e finalização de jogadas, aparecendo sempre como elementos-surpresa.
No início do futebol, o lateral era apenas um homem de marcação. Sua única função era vigiar o ponta adversário e impedir qualquer ameaça contra o seu gol. Com o tempo, começou a ser necessário que ele passasse também a atacar. O Marinho Chagas, que foi lateral-esquerdo de Botafogo, Fluminense, São Paulo e seleção brasileira (disputou a Copa de 74), foi um dos primeiros a avançar constantemente para finalizar e apoiar a ação dos atacantes.
Apesar do caso do Marinho e do meu próprio, o lateral-direito, no Brasil, quase sempre foi mais ofensivo do que o esquerdo, que era mais um marcador. A razão é que os times brasileiros sempre tiveram pontas-direitas ofensivos, tradição formada a partir do Garrincha. O ponta-esquerda, ao contrário, já tinha se tornado, desde o Zagalo, um falso atacante, um terceiro jogador de meio.
Nos anos 70, a melhoria na preparação física aumentou o poder de marcação sobre os atacantes. Surgiu então o overlaping, a ultrapassagem que o lateral fazia sobre o ponta, tornando-se uma forte opção de ataque. O overlaping foi popularizado pelo técnico Cláudio Coutinho, que dirigiu o Brasil na Copa de 1978, na Argentina.
Hoje em dia, os times não possuem mais pontas. Por causa disso, os laterais precisam saber atacar, chutar e armar. Eles não podem mais ficar limitados à marcação do ataque adversário. Como os demais jogadores estão concentrados na faixa central do campo, cada lateral tem que tentar dominar toda a beirada do gramado do seu lado. É por esse motivo que eles, muitas vezes, acabam enfrentando diretamente o lateral do time adversário. Como técnico do Flamengo, tenho visto isso acontecer muitas vezes.
Apesar disso, os laterais continuam a ser jogadores da defesa. Vindos de trás, eles funcionam como elementos-surpresa no ataque. Em algumas equipes, os laterais foram transformados em alas, que são, de fato, homens de meio-campo. Mas não é a regra geral.
Essa evolução dos laterais tornou-os mais completos e esse é um dos motivos pelos quais eles ocupam outras posições no meio do campo.
Mas esta questão não é tão simples assim. Pelo menos alguns dos laterais que ao longo de sua vida se tornaram meias eram, de fato, jogadores de meio-campo que haviam sido deslocados para essa posição no começo da carreira. Este foi o meu caso. Eu só fui voltar a jogar no meio quando me transferi para o Torino, em 1984.

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