São Paulo, domingo, 13 de março de 1994 |
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Neofascista prefere ex-comunista a Bossi
FRANCESCO MERLO
Para Fini, o líder autonomista parece sem lógica, sem medida e inverossímil. Diz que a mente de Bossi }não é somente incapaz de movimentos, como parece à primeira vista. Maz que ele acha }que o absurdo dos gestos exagerados pode trazer vantagens. Fini está em campanha eleitoral desde setembro: }Ficarei até junho deste ano. Em 27 de março voltará a Roma. }Não escolhi por qual distrito me candidatarei. Mas uma coisa eu digo: em Roma, o centro não conquistará nem um distrito. Pergunta - Bossi grita porque é fraco? Gianfranco Fini - É um clássico da política. Lembro quando tornei-me secretário. Tínhamos 3,5% dos votos e nos sentíamos agoniados. Atirávamos em qualquer coisa que se movesse, com a esperança de atingir uma vítima qualquer. Porém, a situação era diferente: não tínhamos votos e Bossi tem. Pergunta - Qual é a fraqueza de Bossi, onde está escondida a ferida que o faz gritar? Fini - Bossi não tem nada a ver com a democracia, com a política responsável, com o construir, o governar, o discutir, a educação, a civilidade. É o "pai-patrão" da Liga. Dirige o movimento em total ausência de regras e de democracia. Sabe que numa mesa, num confronto civil, numa aliança com pessoas de igual dignidade, se torna o tonto da situação, não aguentaria o confronto. Neste momento, está aterrorizado pelo confronto com Berlusconi. E por isso berra, ameaça, manda seu homem de confiança atacar e depois o desmente. Se ele quiser agitar a bandeira do antifascismo, pode fazê-lo muito bem. É o que faz Occhetto e não nos escandalizamos muito. Considero-o até legítimo. Mas a realidade é outra, ele grita "Fini é fascista" porque tem medo de Berlusconi. Pergunta - O que o sr. acha da declaração de Bossi de que }a palavra 'moderado' faz pensar nos velhinhos de touca e chinelos? Fini - Eu também não sou moderado. Mas não porque sou um extremista, mas porque sou um intransigente. Pergunta - Martinazzoli (da Democracia Cristã) afirma que Bossi prefere que vençam as esquerdas, sonhando irritar o Norte e levá-lo à secessão. Fini - Bossi diz sempre }no Norte vencemos nós, o sul é com vocês. Parece que diz }o sul não nos interessa. É evidente que para Bossi não se coloca o problema de governar. Neste sentido, a análise de Martinazzoli me parece correta. Mesmo nessa hipótese, Bossi será sempre o tonto da situação. A verdade é que Bossi não é um perigo para a democracia, é um inimigo da democracia. Nós, do MSI, decidimos que acabou a fase de alternativa de sistema e queremos governar. Bossi é destruidor, é anti-sistema. Mas será que ainda se pode destruir nesta Itália? Pergunta – O sr. é liberal-democrata? Fini – Eu creio na democracia. E se ser liberal quer dizer crer na liberdade e na democracia, então eu sou liberal-democrata. Mas a liberal-democracia na Itália foi uma outra coisa. Neste sentido eu não sou liberal-democrata. Também Jirinovski diz que é. No sentido no qual ele é, eu não o sou. Pergunta – Achille Occhetto (líder do PDS) diz que o sr. é simpático... Fini – Occhetto também é simpático, jovial e até irônico. Isso acontece com adversários, quando aceitam as regras, e o confronto, talvez duro, é civilizado. Pergunta – Em suma, Occhetto é melhor do que Bossi? Fini – Occhetto é, historicamente, um adversário; Bossi é um inimigo. Tradução de Anastasia Campanerut Texto Anterior: Liga Norte ataca seu 'aliado' Berlusconi Próximo Texto: Norte destrói o Sul em guerra civil simulada Índice |
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