São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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Clinton tenta fazer país mudar de assunto

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Bill Clinton, está passando o fim-de-semana fora de Washington, em nova tentativa de concentrar a atenção do país em qualquer assunto que não o caso Whitewater. Em Detroit, região Meio-Oeste e símbolo dos principais problemas urbanos da nação, ele fala sobre desemprego e saúde, dois dos temas que mais o ajudaram a eleger-se presidente em 1992.
Mas a trégua será curta. Hoje mesmo, os jornais estarão cheios de comparações de Whitewater com Watergate, o escândalo que levou Richard Nixon à renúncia há 20 anos e o caso será o tema central de quase todos os programas matinais de entrevistas das redes de TV. Amanhã, a pressão para se constituir uma comissão parlamentar de inquérito recomeça.
Por enquanto, apenas cerca de um terço dos norte-americanos acreditam, segundo as mais recentes pesquisas de opinião pública, que o presidente ou a primeira-dama cometeram crimes em seus negócios financeiros no Estado de Arkansas durante a década de 1980. Mas outro terço deles acham que o casal agiu de forma antiética. Só um terço crê na sua inocência total.
Os números ainda são favoráveis ao governo Clinton, embora sua avaliação tenha caído 10% em todas as pesquisas feitas nesta semana, após a revelação de que assessores íntimos do presidente e da primeira-dama se reuniram com investigadores do caso Whitewater em encontros que podem vir a ser considerados como tentativas de obstrução da Justiça.
Em estágio comparável ao atual do caso Whitewater no escândalo de Watergate, o então presidente Nixon também era capaz de manter índices positivos de aprovação pública. Ele foi reeleito em 1972 com a maior diferença de votos da história norte-americana até a época e seu adversário, George McGovern, jamais conseguiu fazer de Watergate uma arma.
O problema para Nixon começou a se agravar quando se acumularam provas de que ele e seus assessores mais próximos agiram para impedir que os fatos sobre Watergate viessem a público. Há consenso entre historiadores de que se eles não tivessem feito isso o crime em si (a invasão da sede nacional do Partido Democrata) não teria sido suficiente para derrubar Nixon do poder.
A situação para Clinton é similar. Até a admissão das reuniões entre auxiliares dos Clinton e investigadores de Whitewater, a maioria dos norte-americanos ou desconhecia o caso Whitewater ou o considerava assunto menor. O problema começou a parecer mais grave para muita gente quando passou a se evidenciar o esforço da Casa Branca para ocultá-lo.
Em Watergate (nome do edifício em Washington onde estava sediado o partido de oposição a Nixon), o crime original foi um ato barato de banditismo do qual, tudo indica, o presidente só teve conhecimento após ter ocorrido. Em Whitewater (nome da empresa de construção civil de que os Clintons eram sócios), as evidências até aqui são de pequenas contravenções fiscais ou contábeis em firma que pertenceu ao presidente.
Whitewater, no entanto, tem elementos agravantes em relação a Watergate que tornam o caso ainda mais sensacional: a morte, por aparente suicídio, do amigo, advogado e assessor de Clinton, Vincent Foster, em julho de 1993, e a maneira suspeita com que a Casa Branca lidou com ela.
Por ordens de pessoas muito próximas a Clinton, a investigação da morte de Foster foi entregue não ao FBI, mas à polícia florestal (sob alegação de que seu corpo foi achado num parque sob sua jurisdição) e muitas pastas do arquivo dele foram retiradas às escondidas de seu escritório antes da chegada da polícia. Se ficar provado que essas ordens foram dadas para obstruir a ação da Justiça, a situação de Clinton se complicará muito.

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