São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Para ministro, plano ganhará força

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, deve sair candidato à Presidência da República para garantir a aplicação completa de seu programa de estabilização. Essa é a conclusão que toma corpo nos meios políticos e econômicos ligados a FHC. Nasce da seguinte observação: se FHC não se candidatar, o plano ficará totalmente órfão na campanha eleitoral, sendo atacado por todos os candidatos mais fortes. E assim, o programa estará destruído, porque ninguém vai acreditar em um plano cuja maturação estará prevista para a administração de um presidente não comprometido com ele.
A idéia dominante até algumas semanas, inclusive na equipe econômica, indicava que FHC deveria desistir da candidatura e permanecer no ministério para garantir a continuidade do plano de estabilização. Mas essa idéia começou morrer quando ficou claro que o deputado Antônio Britto (PMDB-RS) não tem condições de sair candidato à Presidência. E não se encontrou substituto, comprometido com o plano, com chance de ganhar.
Pior ainda, segundo os aliados de FHC: os candidatos potencialmente mais fortes, por exemplo, Luiz Inácio Lula da Silva, Paulo Maluf, Leonel Brizola, Orestes Quércia, todos certamente farão campanha de oposição, atacando o plano que é a única coisa consistente do governo Itamar Franco.
Como diz um assessor próximo de FHC, o ministro ficaria como um pato desprotegido, no meio do lago, alvejado de todos os lados. É um parelelo muito preciso com o que aconteceu no final do governo de Raul Alfonsin, na Argentina.
Estava em curso um programa de estabilização, propondo austeridade, quando o candidato à frente nas pesquisas, Carlos Menen, atacava o plano e anunciava um aumento geral de salários , o "salariaço", tão logo chegasse ao governo. O programa ruiu e, logo após a vitória de Menen, a Argentina entrou em hiperinflação. Aqui, Lula faria o papel de Menen.
Verdade que Menen, em vez do "salariaço", acabou fazendo, depois de várias tentativas, um plano muito mais austero do que o de Alfonsin. Esta observação, aliás, tem sido feita para Lula, em sua conversas com empresários. Mas Lula sempre responde: "Não se enganem, eu não sou o Menen".
Nessas circunstâncias, passa a valer o argumento que colaboradores apresentaram diversas vezes a Fernando Henrique: é mais fácil arrumar um ministro para tocar o plano do que um bom candidato à Presidência. Candidato, FHC pode dizer que completa o plano em seu próprio governo, com tempo para, debelada a inflação, tocar um crescimento econômico sustentado.
É essencial para essa estratégia que FHC, candidato, permaneça dono e responsável político pelo plano. Para isso, é essencial que o novo ministro da Fazenda seja uma clara continuidade e que o próprio FHC, no Congresso, lidere a votação do programa.
Políticos experientes comentam ainda que uma candidatura FHC apoiada pelo PFL e por parte do PMDB poderia, de quebra, formar maioria no Congresso para votar a revisão constitucional. Trata-se, como se vê, de uma grande manobra que está em curso.

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