São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Cartões de crédito voltam a crescer

EDUARDO BELO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cartões de crédito voltam a crescer
Com URV, administradoras e comércio acreditam na diminuição de cheque pré-datado
As administradoras de cartões de crédito se preparam para uma explosão no volume de negócios. O uso da URV nos comprovantes de pagamento desde ontem leva o cartão de volta às origens: ele se converte em uma forma de pagamento que visa adiar o desembolso e facilitar compras de impulso.
A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abeccs) espera um salto dos atuais 300 mil para 1 milhão de negócios por dia em um ano. "Não como explosão de consumo, mas como troca do meio de pagamento", afirma Nilton Volpi, presidente da Abeccs. Ele acredita que o consumidor optará pelo cartão em vez do cheque pré-datado, por exemplo.
Os telefones das administradoras estivaram congestionados nos últimos dois dias. Eram estabelecimentos que até então desprezavam cartões interessados no credenciamento, diante da possibilidade de receber o dinheiro da venda atualizado. Até mesmo os supermercados já flertam com o negócio, diz Márcio Santos Souza, diretor-geral do cartão Bradesco-Visa.
O exemplo mais marcante é a volta das companhias áereas. A maior do país, a Varig, fechou contrato ontem com a Credicard. A venda de passagens com cartão começa hoje. As companhias aéreas se afastaram do dinheiro de plástico em março do ano passado, devido à combinação de inflação crescente e longos prazos para receber das administradoras.
Com a URV, a prática generalizada de dois preços –um à vista, outro com cartão– tende a acabar. O comércio que aceita o mesmo preço no cartão ou à vista começa a se desintoxicar do custo financeiro. Foi o que fez a C&A Modas. Suas 45 lojas abriram ontem com redução média de 30% nos preços.
"Retiramos a expectativa inflacionária", revela Luiz Antonio de Moraes Carvalho, vice-presidente da C&A. Segundo ele, os cartões respondem por grande parte –não revelável– do faturamento.
A expectativa das administradoras e do próprio comércio é de redução no uso do cheque pré-datado. "Ele perdeu o sex-appel", comenta Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo. "Mas sobrevive, porque tem flexibilidade." Segundo ele, o pré-datado ainda é um bom instrumento nas vendas de prazo mais curtos –inferiores ao do cartão.
Cuidados
Isso pode provocar um descompasso, se a fatura vencer muito tempo depois do pagamento do salário. Por isso o coordenador do Procon de São Paulo, Marcelo Sodré, recomenda cautela. Se for possível, convém antecipar o pagamento ou alterar o vencimento do cartão para uma data próxima à do salário.
O consumidor também tem a opção de aplicar o dinheiro da compra. A expectativa do mercado financeiro é de que todas as aplicações, exceto fundão, batam a variação da URV. Nesse caso é necessário verificar se o prazo de resgate do dinheiro aplicado coincide com o vencimento da fatura.
Atrasar pagamento de cartão ou usar o crédito rotativo –pagar parte do valor– nem pensar. Além da correção diária, as empresas continuarão cobrando juros sobre os cruzeiros reais da parcela não-paga. As taxas vão de 50% a 60% ao mês.
A Abeccs orienta os consumidores a exigir, nas compras com cartão, o mesmo preço à vista. Também é preciso ficar claro, no comprovante de venda, se o valor é em cruzeiros reais ou URVs. Já o Procon aconselha não emitir cheques pré-datados com prazos superiores a 30 dias. Podem ocorrer mudanças repentinas e o cheque ser depositado antes.

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