São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Eleições pressionam parlamentares

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As eleições gerais deste ano influenciaram diretamente as negociações da MP que criou a URV. Para agradar seus eleitores, os parlamentares envolvidos nas discussões aceitaram a pressão de lobbies e tentaram consolidar alianças políticas momentâneas que não deram resultados práticos.
Na preparação do seu relatório, o deputado Gonzaga Mota (PMDB-CE) fez uma verdadeira salada ideológica. Alegando que queria fazer "um relatório negociado", ele atendeu ao lobby dos sindicalistas, dos empreiteiros, do mercado financeiro, dos servidores públicos e do próprio governo.
Em uma semana de trabalho, Mota aceitou a reposição das perdas salariais, garantiu que os contratos em URV poderiam ser revistos em menos de um ano e acenou com a possibilidade de obrigar o governo a pagar a correção monetária das aplicações financeiras entre o último reajuste destas aplicações e a emissão do real. Ao mesmo tempo, informava ao governo que não apresentaria ontem seu relatório, jogando a votação para o plenário do Congresso.
Na tentativa de agradar a todos, Mota se atritou com o senador Odacir Soares (PFL-RO) –presidente da Comissão do Congresso que analisou a MP– e com os sindicalistas. Na reunião de anteontem à noite, no Ministério da Fazenda, Soares e Mota discutiram diante de Edmar Bacha, Gustavo Franco e FHC.
O ministro da Fazenda queria saber se o relatório seria apresentado ontem. Mota respondeu que não o apresentaria pois não tinha tempo para concluí-lo. Odacir Soares interferiu em voz alta. "Não aceitei ser presidente da Comissão para fazer uma farsa". Gustavo Franco, diretor do BC, tentou amenizar. "Tudo que vocês querem já está na MP", disse.
Por diversas vezes na reunião, FHC chamou Gonzaga Mota para uma conversa reservada e conseguiu convencê-lo a não aceitar as reivindicações dos sindicatos. "O Gonzaga Mota faz acordo conosco mas não enfrenta o ministro", reclamou o deputado Paulo Rocha (PT-PA), presidente da Comissão de Trabalho da Câmara.
Irritado com o abandono de Gonzaga Mota da relatoria, o senador não poupou críticas ao deputado.

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