São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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FHC rejeita alterações que "furem" o plano econômico

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, disse ontem que não permitirá modificações na MP (medida provisória) da URV (Unidade Real de Valor) que "furem o plano de estabilização". FHC admitiu dispensar um tratamento especial para as empresas que estão em dificuldades para se adaptar às regras.
O ministro defendeu o uso de mecanismos legais para impedir a emissão injustificada do real e um mandato aprovado pelo Senado para diretor do Banco Central encarregado de cuidar da emissão da nova moeda. A seguir os principais trechos da entrevista:
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REAL
O real será criado com todas as garantias contra os efeitos da inflação passada e futura. Fernando Henrique quer que o Senado crie um mandato com prazo fixo para o diretor do Banco Central, que ficará responsável pela emissão do real. "A nova moeda precisa ser defendida dos setores do próprio governo que querem gastar mais do que podem", disse FHC. "O real terá todas as garantias, lastros e mecanismos de conversão que darão confiabilidade ao mercado", disse.

URV E EMPRESÁRIOS
As regras de uso da URV (Unidade Real de Valor) serão mantidas para toda a economia, mas FHC admitiu um tratamento "especial" nos casos de empresas que tenham, de fato, dificuldades em usar a URV. "As regras gerais começam hoje (ontem) e são pra valer. A URV é para ajudar o Brasil a acabar com a inflação. Quando houver algum tipo de dificuldade a gente resolve, mas não é o caso de agora", disse. "É preciso um espaço para a sociedade se adaptar à URV. Não podemos mudar as regras a todo o instante.".

CONTROLE DE PREÇOS
O controle de preços com a volta do CIP, sugerido pela economista Maria da Conceição Tavares, foi rejeitado pelo ministro: "É uma coisa da época do Cruzado, resquício do autoritarismo. Agora a economia é de mercado. O combate ao abuso de preços deve ser feito no "corpo-a-corpo".MP E CONGRESSO
Fernando Henrique disse que não adianta os parlamentares recorrerem ao presidente da República, Itamar Franco, para alterar a política salarial da MP: "Se forem falar com o presidente Itamar Franco, eu estarei junto. Não vou permitir que mudanças na MP furem o plano. Até agora não houve nenhum tipo de dificuldade de negociação com a comissão."

PERDAS
As "perdas" salariais foram contestadas por FHC. Ele voltou a dizer que o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo já deu uma decisão dizendo que as perdas não existem –na realidade, a sentença afirma que eventuais perdas têm de ser repostas. "Não vou fazer coisas que levem de novo a existir inflação em real. Ou tratamos a questão dos salários com seriedade ou ficamos nessa lenga-lenga, que não resolve.". Segundo o ministro, é possível negociar perdas, "mas não aquelas que vêm sendo defendidas pelos sindicalistas". Ele condenou o comportamento do "brasileiro que acha que tudo o que deseja precisa colocar em lei".

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