São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Idéias, não insultos

A constatação de que o partido melhor posicionado na corrida presidencial teria um desempenho pouco expressivo nas eleições para os governos estaduais merece uma reflexão mais detida. De fato, Lula chega a alcançar até 30% das intenções de voto para a Presidência, mas nos dez Estados mais Distrito Federal pesquisados pelo Datafolha, nenhum candidato petista ocupa posição de destaque.
Tal situação torna-se ainda mais curiosa quando se considera que o Partido dos Trabalhadores é o de maior consistência ideológica –goste-se dessa ideologia ou não– dentre os existentes no Brasil. Ou seja, como explicar que o eleitor aprove as idéias do PT para o Brasil, mas não para seu Estado?
A resposta é tão simples quanto desalentadora. O eleitor brasileiro, mesmo o que vota num partido programaticamente mais coeso como o PT, ainda não vota levando em conta principalmente as idéias, mas é influenciado em grande medida por imagem de pessoas ou simplesmente por mensagens publicitárias. Se Lula vai bem nas pesquisas, isso tem menos a ver com a plataforma da legenda do que com a figura carismática de seu líder. Não fosse assim, muito embora a campanha ainda não tenha começado oficialmente, os candidatos a governador do PT figurariam de modo mais visível na sondagem.
E se há quem não contribua em nada para a melhora do nível político-ideológico do Brasil, estes são justamente os políticos, que invariavelmente em suas campanhas preferem o ataque puramente pessoal –e nem sempre fundado– a seus adversários ao desejável debate de idéias e de propostas. E a campanha deste ano, pelo pouco que dela já se experimentou, promete ser, neste aspecto, uma das piores de que se tem notícia.
O aprendizado democrático é um processo complexo e difícil, mas que tem de ser enfrentado pois é a garantia do Estado de Direito. E para melhorar o nível o político do país, o que é fundamental para o aprendizado de práticas democráticas, o eleitor tem um papel importantíssimo: ele pode, através de seu voto, dizer não àqueles políticos que descambam para o ataque pessoal e não debatem idéias simplesmente porque não as têm.

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