São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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FMI apóia programa, mas não fecha acordo

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

FMI apóia programa, mas não fecha acordo
Fundo deixa o acerto fica para mais tarde, provavelmente quando for lançado o real; posição frustra banqueiros
O Fundo Monetário Internacional divulgou ontem em Washington nota de apoio ao programa econômico do governo brasileiro mas afirmou que um acordo com o Brasil só vai ser acertado mais tarde, "provavelmente na época prevista para a mudança do regime monetário".
O comunicado foi lido pelo diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus, na presença do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, após conversa a sós entre os dois de 40 minutos e almoço com suas respectivas equipes. O ministro disse ter ficado "muito feliz" com a declaração de Camdessus.
Frustração
O apoio do Fundo foi recebido com alguma frustração por banqueiros ouvidos pela Folha. Para a reestruturação da dívida externa brasileira com os bancos particulares entrar em vigor como previsto no dia 15 de abril, eles contavam com um acordo "stand-by".
O "stand-by" é um empréstimo de curto prazo do FMI a um país que apresenta carta de intenções aprovada pelo Fundo e que em geral é utilizado para avalizar entendimentos com entidades privadas.
Sucessão
Por motivos políticos, os bancos tendem a aceitar a nota de apoio do FMI como garantia suficiente. Eles acham melhor colocar o acordo em vigor logo, o que lhes garante o recebimento de pelo menos parte dos juros devidos, do que esperar pelo "stand-by" com o FMI e deixar o processo se aproximar demais da eleição presidencial.
Eles também preferem dar apoio agora ao programa do goveno como forma de não estimular a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
Pelas mesmas razões, também o governo dos EUA tende a se satisfazer com o comunicado do FMI e concordar com a emissão para o Brasil dos seus "bônus zero", que servem como garantia para o principal da dívida brasileira em sua reestruturação com os bancos particulares.
O governo norte-americano, satisfeito com o desenvolvimento de algumas pendências bilaterais com o Brasil, como as questões da propriedade intelctual e do monitoramento de instalações nucleares, está disposto a investir politicamente no governo brasileiro. A emissão dos bônus zero fará parte desse investimento.
Dúvidas
Na equipe do ministro, havia satisfação pelo conteúdo da nota do FMI. Como a Folha informou ontem, a presença dele em Washington foi indispensável mesmo para a obtenção desse comunicado de apoio.
Na véspera, as dúvidas do Fundo quanto à consistência dos números da parte fiscal do programa econômico ainda eram tão grandes que chegou a se levantar a possibilidade de um adiamento de qualquer decisão.
Os termos da declaração do Fundo são bastante fortes em favor do plano do governo e da sua equipe econômica e refletem a boa vontade que existe em relação a ambos.
Mas, depois de 11 experiências nos últimos 11 anos de cartas de intenção nunca cumpridas pelo governo brasileiro, desta vez o FMI quer ver pelo menos alguns resultados antes de fechar outro acordo.

LEIA MAIS
sobre o Plano FHC na pág. 1-14

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