São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994 |
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Brasileiro voltará a comprar a crédito
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O presidente da Brastemp, Freddy Mastrocinque, acredita que a venda de eletrodomésticos (os chamados bens duráveis) vai aumentar já nesta fase da Unidade Real de Valor, URV. De um lado, diz ele, o preço está bom. Geladeiras, refrigeradores e freezers, em URV, custam em março 4% a menos do que a média de setembro a dezembro de 1993. No regime de inflação alta e crônica, o consumidor nunca sabe como vai evoluir a prestação, com correção monetária, mais juros e mais expectativa de inflação futura. Mas sabe que o salário estará sempre atrás da alta da prestação. A existência de um padrão monetário estável elimina essa insegurança e estimula a consumo já, por conta de recebimentos futuros. É a base da economia de mercado. Nos Estados Unidos, 90% das vendas de eletrodomésticos de grande porte são feitas a prazo variando de 18 a 24 meses. As construtoras compram 20% desses produtos. Automóveis, ainda nos Estados Unidos, são comprados em prazos maiores, três anos, tanto no crédito direto ao consumidor quanto no sistema de leasing, segundo informa o presidente da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos), Sérgio Reze. Os juros estão baixíssimos, por volta de 3% a 4% ao ano. Na Europa, estão em torno de 12% ao ano. No Brasil, Reze acredita que no primeiro momento da moeda estável, os juros ficarão entre 18% a 24% ao ano. Altos, mas quase a metade do que se cobra hoje. No Brasil, as vendas a prazo de veículos não chegam a 10%. No caso de eletrodomésticos, praticamente não há negócio a prazo. O costume é fazer dois ou três cheques, que é praticamente à vista. Freddy Mastrocinque acha que o aquecimento das vendas virá antes mesmo da estréia do real. A equipe econômica também acha e teme que isso gere pressões inflacionárias novas. Mastrocinque pensa que a preocupação é exagerada. Diz que a indústria tem muita capacidade ociosa e pode crescer a produção com a estrutura atual. O vice-presidente do Bradesco e presidente da Associação Brasileira de Empresas de Leasing, Antonio Bornia, também aposta num rápido crescimento dos negócios a prazo. O leasing, então, "tem espaço infinito para crescer", diz ele. Basta comparar. No Brasil, no ano passado, as operações de leasing alcançaram US$ 4,2 bilhões. Na Espanha, economia estável, de porte semelhante à brasileira, o leasing passa dos US$ 20 bilhões anuais. E nos Estados Unidos, os negócios com leasing já passavam de US$ 130 bilhões em 1991. O brasileiro é o cidadão menos endividado do mundo. Com a estabilidade, vai poder gastar por conta. (Carlos Alberto Sardenberg) Texto Anterior: Economista faz bom negócio Próximo Texto: Saiba como consultar a tabela Índice |
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